Uma das coisas mais interessantes que aconteceram na última década foi com certeza uma democratização na produção (e distribuição) de música. Se a gente já encontra o germe dessa “revolução” lá nos Quarrymen, na cultura punk (e funk) ou no hip-hop lá pelos anos 1980 – para dar alguns exemplos – os anos 2000 viraram palco pra qualquer um – e quando digo qualquer um, é qualquer um MESMO – que quisesse fazer música. Direta ou indiretamente, são muitos e dos mais variados os beneficiados com esse processo: do João Brasil à Lily Allen, do Wavves à Mallu Magalhães, do nosso querido Justin Bieber aos mais queridos ainda Radiohead, e por aí vai. Mas, afinal, o que o novo disco do Pato Fu, uma das bandas brasileiras mais consagradas dos anos 1990, tem a ver com isso?
Bem, essa “revolução” chegou também aos músicos, digamos, profissionais. Com a facilidade ainda maior de gravação e distribuição das músicas, tem gente fazendo projeto adoidado. Só para ficar em alguns exemplos, o Flaming Lips regravou o “The Dark Side Of The Moon” todinho – e depois lançou o disco fisicamente, o produtor Kutiman pegou um monte de vídeo no YouTube e fez um dos trabalhos mais geniais dessa década, o Beck já tá há um tempo emendando covers de discos clássicos inteiros, e o Jack White… bem, não vou falar do Jack White.
O que o Pato Fu entrega nesse “Música De Brinquedo” se assemelha mais a esses projetos do Flaming Lips ou do Beck do que a um novo disco de estúdio. Primeiro, “Música De Brinquedo” é todo feito de covers. Tem desde escolhas mais inesperadas, como “Todos Estão Surdos” e “Pelo Interfone”, até as mais esperadas possíveis, fundos de tachos de qualquer coletânea, como “Rock and Roll Lullaby”, “My Girl” e “Love Me Tender”. Nenhuma música, no entanto, é realmente surpreendente e, me atrevo a dizer, todas já passaram por uma coletânea antes.
Ainda assim, “Música De Brinquedo” tem, na parte musical, a excelência de uma banda que sempre foi afinada. Além da Família Lima e do Fat Family, o Pato Fu talvez seja a única banda no Brasil que realmente deveria se autodenominar uma família. Além do disco ser completamente (dizem eles) gravado com instrumentos de brinquedo, os pequenos filhos e filhas dos integrantes da banda fazem o grande diferencial do disco: os backing vocals. O disco parece ser, talvez até mais do que um produto para o público, uma maneira com que os pequenos participem de fato do Pato Fu. E eles dão a verdadeira graça ao projeto, mais do que qualquer timbre divertido de instrumento.
O disco, no entanto, não se sustenta por muito tempo, principalmente pela escolha do repertório, muito conservadora. Não é exatamente por ser um disco para crianças, porque Partimpins e Pequenos Cidadãos estão aí para comprovar que criança não deve ser alimentada apenas com papinha. Tampouco são os timbres que cansam o ouvinte. Um bom exemplo disso é o projeto “Rockabye Baby Lullaby”, também gravado com sons infantis, que faz covers instrumentais de bandas como Radiohead e Metallica e que, principalmente pelas músicas escolhidas e pelos bons arranjos, cansa menos. Como o novo do Pato Fu tem bons arranjos, o que fica faltando mesmo são músicas mais interessantes e menos rodadas.
“Música De brinquedo” é um projeto muito válido, e funciona bem para desafogar Fernanda, John e Lulu do mais-que-bem-sucedido projeto solo da vocalista, “Onde Brilhem os Olhos Seus”, que tinha os outros dois na produção. Fica a dúvida se não seria melhor simplesmente fazer como Beck e lançar o projeto na internet. Os fãs não reclamariam.
[“Música De Brinquedo”, Pato Fu. 12 faixas com produção de John Ulhoa. Lançado em Julho de 2010 pela própria banda.]
[rating: 2.5/5]
PS: A internet é mesmo um lugar legal. Tem como, por exemplo, cogitar os motivos que levam uma banda a gravar determinado disco. Em junho de 2009, John Ulhoa postou essa notinha no seu blog:
Aí foi aniversário de minha filhinha e fui na lojona de brinquedo procurar presente. Da entrada avistei um piano lá no alto duma pilha de coisas que nunca vendiam. Um piano de brinquedo incrível, 3 oitavas, afinado, quer dizer, afinado daquele jeito que os pianos de brinquedo legais devem ser. Pedi pra descer, tava todo empoeirado. Fiquei testando no meio da loja, todos os vendedores pararam pra assistir com aquela cara de “ele vai mesmo levar ISSO?” (…) daí falei “vou levar o piano”, e fui pro outro lado da loja enquanto empacotavam o bicho. Foi aí que achei isso aqui. Um AUTORAMA DO MARIO KART!!!! Putamerda. Minha vista até escureceu na hora. Quando voltei a mim, eu tava entregando os dois presentes pra Nina, que amou o Mario Kart mais que tudo, e tocou seu pianinho a manhã inteira, comigo acompanhando ao violão. Sou um bom pai.
Como diria Beto Jamaica, depois de nove meses você vê o resultado 🙂
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Esse comentário “Como diria Beto Jamaica, depois de nove meses você vê o resultado :)” não tem muito a ver com o resto do texto… ou eu tô enganada?
Deu uma conotação estranha, enfim. Pergunto-me o que o autor quis dizer com isso o.O
Porém, o resto do post está bem legal.
thais, você me pegou: eu precisava muito citar o Beto Jamaica! Haha Brincadeira.
É só uma sugestão – feita de uma maneira bem tosca, admito – de que um tempo depois que o John comprou o tecladinho pra sua filha o Pato Fu apareceu com um disco com instrumentos de brinquedo.
tsc tsc
o comentário final tá perfeito! rs encaixa bem no texto e a piada é boa..ora [`´] rsrs
“Em junho de 2009, John Ullhoa postou essa notinha no seu blog…”
Não seria “Em outubro de 2008, John Ulhoa…”?
Concordo no aspecto que fez o projeto cansativo de ouvir: repertório. Ideia genial com potencial enorme, mas com um repertório ruim de ouvir.