Quem diria que a banda nova mais incrível dos últimos tempos venha direto do Rio de Janeiro? Quem leu esse texto aqui sabe o quanto eu ando descontente com a produção musical carioca pós-Do Amor (tirando o Tono, em quem ainda aposto minhas fichas), então é surpreendente para mim que o Dorgas exista e tenha o melhor EP de três músicas que eu ouvi em muito tempo.
Dito isto, cabe falar que o Dorgas é formado por Gabriel Guerra, Cassius Augusto, Lucas Freire e Eduardo Verdeja, cujo sobrenome intitula o primeiro EP do grupo, “Verdeja Music”, lançado há pouco mais de um par de meses. Quem primeiro descobriu a banda foi o Cláudio do Trama Virtual, que ficou igualmente surpreso logo quando lançaram o EP em abril. Na época nem li a matéria direito, mas deixei favoritada para ouvir depois, o que demorou três meses, basicamente.
Não há muito mais a saber sobre eles além dessas três canções sensacionais empacotadas no EP, gravado por Pedro Garcia, baterista do Rockz. Não dá para falar de influências marcantes, de shows (eles ainda não tocaram ao vivo), ou de alguma história engraça sobre o surgimento da banda (eles devem ter, a gente é que não descobriu ainda). O que mais chama atenção é que eles soam novos, diferente de tudo que está rolando na música brasileira hoje (a não ser que você queria forçar uma comparação com o Holger ou o stella-viva). “Fresh”, diriam os anglófonos. Não me entendam mal, não preciso dizer que eu estou gostando muito de tudo que está acontecendo nesse momento, mas é simplesmente um alívio saber que ainda podem surgir novos artistas tocando coisas que a gente nunca ouviu.
O EP abre logo com a melhor música da banda, “Bruff”, com guitarras ecoando límpidas e vocal enterrado que mais parece Guilherme Arantes chapado de skunk. A dinâmica lembra um pouco “Weird Fishes/Arpeggi” do Radiohead, na maneira como ela vai criando tensão aos poucos, mas nunca chega a ter um clímax. “Salisme” é o “hit”: seis minutos e meio de mudanças de andamento, guitarras anguladas (meio Foals), um quase-refrão cantado em coro e um final quase ambient. Até o César gostou dessa. “Ostóquix” por sua vez é uma ruminação ambient muito parecida com os experimentos com texturas vocais e teclados que o próprio cara que descobriu a banda – Cláudio aka Babe, Terror – fez no seu “Weekend”. Se a Pitchfork começar a ouvir o EP por essa música, aposto que tascam um “witch house”.
Aproveitando meu entusiasmo, decidi procurar a banda para uma entrevista rápida. Quem respondeu foi Gabriel Guerra, autor de “Bruff” e “Ostóquix”, fã de Superguidis. Gabriel explica um pouco quem são e o que pretendem os Dorgas.
Bloody Pop: Quando e como a banda começou?
Gabriel Guerra: A idéia começou no ano passado entre eu e o Cassius, quando, entre ensaios falhos com outras pessoas e festas horríveis, estavamos precisando de algo para suprir nossa vontade de fazer música que nós realmente poderiamos nos orgulhar. O tempo foi passando, o Cassius conhecia o Lucas e eu conhecia o Verdeja, acabou-se formando uma amizade forte entre nós, ao mesmo tempo que tinhamos os mesmos fundamentos em relação a música e então a banda se formou.
BP: Pela diferença entre as três músicas, dá para chutar que vocês tem um gosto bastante expansivo, é isso? Gabriel: O que vocês ouvem desde sempre e o que vocês ouviram durante as gravações do EP?
Gabriel: Sim, você acertou, nós quatro sempre tivemos curiosidade de ouvir e aprender com tudo, desde o mais abstrato até o mais popular (acho que hoje em dia, em pleno século XXI, tem que ser muito tolo para não ter um gosto musical expansivo). Falando nome-por-nome sobre o que nós todos ouviamos desde que começamos, eu não sei, mas desde que nos conhecemos como banda, nosso principal objetivo foi de que conseguissemos fazer música que ao mesmo tempo mostrasse nossas fragilidades e limitações, mas que também conseguisse dar vida as nossas idéias excêntricas, mas sem soar cabeçudo ou metido á besta, e sim do jeito mais sincero que nós poderiamos fazer. Na época do EP, estavamos ouvindo coisas como Kruder & Dorfmeister, Kate Bush, Beyoncé, Marvin Gaye, Battles, Talk Talk, Ke$ha, Uakti, Snoop Dogg (o teclado final de “Salisme” é totalmente baseado em “Gin & Juice”), St. Germain, Dirty Projectors… acho que é por isso que o EP tem esse aspecto anti-minimalista.
BP: As letras e os nomes das músicas são bastante difíceis de entender. De onde vem?
Gabriel: Na época em que eu escrevi as letras “Bruff” e “Ostóquix” (“Salisme” foi escrita por Cassius, e creio que é uma ode á masturbação) eu queria escrever sobre os que estavam ao nosso redor, falar sobre todo esse negócio da disputa dos jovens para ver quem é o mais libertino, o mais forte, o mais bem-dotado, o mais pegador etc. Falar sobre juventude de forma quase-poética mas que não fosse uma coisa confortável de se ler e escrever, nem para mim, nem para quem estivesse ouvindo. Foi muito díficil para uma pessoa da minha idade, eu devo ser a pessoa mais informal do mundo com meus amigos, tentar escrever sobre eles de uma forma séria é como se eu estivesse botando o dedo na ferida.
Já os nomes é uma explicação um pouquinho mais simples: Durante os ensaios, nós não podiamos ficar enrolando antes de tocar as músicas, pois elas eram longas e é chato pra caralho ter que ficar pensando em um nome de música por dias e dias, então nós precisavamos de algo rápido e marcante, então todas essas 3 canções do EP surgiram comigo parando por 10 segundos para pensar em algum nome engraçado, sem sentido e não-existente.
BP: O que vocês estão planejando depois do EP? Shows? Músicas novas?
Gabriel: Agora nós estamos criando e trabalhando em mais músicas, que estão bem mais coesas do que as do EP, para quando nós estivermos 100% possamos começar a fazer shows no segundo semestre. Lá para o final do ano, pretendemos lançar um single (ou até mesmo outro EP) de uma música nova nossa, chamada “Loxhanxa”. Se pá, rola até um clipe.
BP: Dorgas, vocês acham que os pais de família vão deixar seus filhos escutarem uma banda com esse nome?
Gabriel: Depende, quando nós falamos o nome da banda para nossos pais, eles acharam a piada horrível (ou não a entenderam), mas nossos pais são confessos para dizer, eles são bem cabeça-aberta. Para os papais e mamães mais bolados da cabeça, nós estamos marcando uma sessão de fotos no qual cada um de nós vai estar com uma camisa que terá escrito o expressivo testemunho do Livro de Zacarias sobre a segunda vinda de Cristo à terra (aka Zacarias 14:4).
BP: Entre as influências vocês citam “ouvirtirodomorrodosprazeres” (ouço também, sou de Santa Teresa). O quanto do Rio vocês acham que tem na música do Dorgas?
Gabriel: Muito, nós jamais conseguiriamos escrever algo sem a influência de onde eu vivo, o Rio me influencia bastante, tanto de forma voluntária quanto involuntária. Fisicamente falando, é uma cidade muito bela e errada também pois o relevo carioca é tipo, o menos propício para se construir uma cidade. E o carioca é um sujeito muito amigável e faz questão de ser visto assim, mas ao mesmo tempo, é meio acomodado em relação a vida. É por isso que no Rio existe pouquissimas intervenções culturais, porque o carioca não precisa disso, ele já tem a porra da praia e da cerveja para poder se divertir! E a música do Dorgas é, de certa forma, “o belo vs. o errado”, “o acomodado vs. o artistico”. Eu duvido que a nossa música seria parecida com o que a gente está fazendo agora se estivessemos morando em qualquer outra cidade.
Bom saber que você é de Santa Teresa, foi lá que gravamos o EP (com o mestre Pedro Garcia, que também toca no Rockz), é meu bairro favorito do Rio, junto com a Gávea e Vila Isabel. E os caras do Morro dos Prazeres não vão muito com a nossa cara, porque [PIADA INTERNA]a gente é…”a gente”, hahaha[/PIADA INTERNA]
BP: Essa é só de curiosidade mesmo: Guerra, você é o mesmo Guerra que foi nominalmente citado no show do Superguidis no Humaitá Pra Peixe?
Gabriel: SIM! Eu não acredito que isso teve alguma repercussão! Aquele dia foi engraçado, eu tinha perdido minha identidade lá no show passado que eu tinha ido do Do Amor, e o Lucas Pocamacha, guitarrista do Superguidis, fez questão de, antes mesmo do show começar, anunciar e mostrar ao público meu documento em pleno palco! Minhas bochechas ficaram vermelhaças, e eu era novinho (eu tava com 15 anos), parecia um pimentão. Até hoje eu gosto bastante dos Superguidis, escrevem excelentes canções pop e letras sinceras e intrigantes, um caso raro na música brasileira de hoje em dia. O novo album deles está muito bom, apesar de achar que eles poderiam parar de tentarem serem vistos como somente uma “banda brasileira que se influencia por grunge e indie dos anos 90”, acredito que eles sejam muito mais capazes do que isso.
Com esse nome vai longe!
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Vou dar um confere no som da rapize.
Faz o L do patrão.
Muito foda essa banda, parece com a minha
parabén Dorgas
Eu vi o nome da banda e ri, mas ouvindo o EP me impressionei, não consigo acreditar que a banda mais criativa e intrigante dos ultimos tempos seja formado por garotinhos de 18 anos. Imagina o que vem dpois
esse pivetes são muito complexos para serem do Rio de Janeiro
tivemos a mesma impressão quando ouvimos pela primeira vez, luiz.
Não é o tipo de som que eu escuto, mas a molecada toca bem, e sabe o que tá fazendo. Boa sorte pra eles.
rapaz, to ouvindo a banda aqui.
que beleza! muito bom!
vou baixar o EP agora mesmo.
parabéns pra banda, e aguardo novas faixas.
os amiguinhos fazendo sucesso! parabéns pra eles 🙂
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