No Age é estranho. Seja na formação – quem canta é o baterista, Dean Allen Spunt -, seja no som. Os dois primeiros discos da dupla somados são pouco mais de uma hora de som, poucas músicas passam dos três minutos, as gravações são toscas, os timbres sujos, a mixagem estranha e as letras simples, como se servissem só pra preencher o som. Zero de sofisticação, mas sem desvalorizar a melodia. Paul McCartney não está entre as influências deles no MySpce por acaso. Kurt Cobain provavelmente gostaria do som, são discípulos de todas as bandas lo-fi dos anos 80 e 90. Encontrar uma resenha da banda que não cite Sonic Youth é difícil. Simplificando: as camisa xadres e o selo da Sub Pop dizem mais do que esse parágrafo todo.
Na velha história que persegue o mundo indie, o terceiro do disco do No Age é aquele que equilibra o lado desajeitado do começo com o amadurecimento da banda. É aquele que fãs lá do começo vão reclamar. Dessa dúvida de qual caminho seguir que eles parecem tirar sarro logo na primeira faixa. “Life Prowler” começa com uma batida constante e suja enquanto uma guitarra distorcida, mas muito delicada faz a melodia. Para assustar mais ainda os fãs a segunda música inicia com uma virada de bateria e palmas – que o crítico do Guardian, Michael Cragg associou bem a introdução de “My Sharona” e não fariam feio num single do Ting Tings. A “brincaderinha” acaba com os ruídos de guitarra e a vocal melancólico na sequência dela.
Onde está o barulho? O lado punk aparece nas faixas seguintes com as guitarras muito sujas e a bateria rápida. “Fever Dreaming” tem o espiríto de Joe Ramone nos vocais, enquanto “Depletion” soa como uma homenagem ao Hüsker Dü. Fica bem nítido que o No Age abandonou algumas esquisitices, nada de bateria muito alta e o vocal escondido no barulho. No novo disco os vocais tomam a linha de frente, longe do pop, mas longe também do lo-fi. Mas não é porque as guitarras estão mais trabalhadas e bem gravadas que eles abandonam a sujeira. Nem na lenta “Common Heart”, que tem violão e meia-lua marcando o tempo, a guitarra deixa de soar, fazendo um clima só com o feedback. Para não fugir da regra. Contradições e mais contradições.
Com essas mudanças seria esse então o “Nevermind” (ou “Dirty”) do No Age? Quase. A estranheza volta a tomar conta nas últimas faixas quando eles resolvem brincar com a música eletrônica. E aí tome experimentação e músicas puramente instrumentais. Cai a idéia de que eles esquentaram a cabeça se preocupando em acertar o som para um público maior. Uma atitude interessante e válida, mesmo que fique a impressão que teriam um disco muito mais forte se apostassem só no lado roqueiro alternativo – as faixas estranhas não empolgam como as outras, são bem chatas até.
Esse contraste de sonoridades é reforçado com a ótima “Chem Trail” no final. Um delicioso e certeiro dueto equilibrando perfeitamente pop e indie, lembrando muito o Vaselines. Se eles não decidem o que querem, acabam fazendo o seu melhor quando ficam em cima do muro. E para não fugir da regra de citar o Sonic Youth, “Valley Hump Crash”, merecia um participação da Kim Gordon nos vocais.
[“Everthing In Between””, No Age. Lançado pela Sub Pop em setembro de 2010.]
[rating: 3.5/5]

Deixe um comentário