40) “The lovers are losing” [vídeo]
Keane
O Keane pode tentar brincar com atmosferas, efeitos e outros formatos de canção como fizeram em parte do segundo disco, mas eles só são bons mesmo – e, quase sempre, nem tão bons assim – quando miram no pop grudento, certinho, estrofe-refrão-estrofe-refrão. Num disco em que eles quase deixaram o mimimi de lado para quase cair na pista (às vezes constragedoramente, como em “Spiraling”), “The lovers are losing” soa quase retrógrada, mas é aí que está o segredo: se a casca new wave mostra o Keane se vestindo com a moda de 2008, a melodia é puro Elton John. No mais, um dos refrãos mais grudentos do ano.
39) “Get-well-cards” [MP3]
Conor Oberst
Algumas pessoas viajam para Índia para se encontrar, outras – e esse é o caso de Conor Oberst – subvertem sua própria ordem. Depois de um disco conceitualmente forçado, o trovador indie original finalmente chega à maturidade por um caminho que ninguém esperava: deixando o Bright Eyes de lado, para um esforço totalmente solo. Sozinho e pronto para ser o que quiser, Conor moderniza Dylan em “Get-well-cards”, uma canção de amor que crava uma das frases mais bacanas do ano, “I wanna be your bootlegger / I want mix you with something strange”.
38) “Reckoner” [vídeo]
Radiohead
Depois de um concurso de remix e presença num dos filmes mais legais do ano (“Choke”), deu para perceber que não foi só em mim que “Reckoner” bateu atrasado. Inicialmente, “Reckoner” era o patinho feio de “In Rainbows”, uma música que parecia menos espetacular que “Jigsaw falling into place”, “Weird fishes/Arpeggi” ou “All I need”. Mas, justiça foi feita, e ela brilhou sozinha em 2008. Um dos momentos mais esperados dos shows que vem aí vai ser ver como os malabarismos vocais de Yorke em “Reckoner” funcionam ao vivo.
37) “L.E.S. Artistes” [vídeo]
Santogold
Numa época em que o “Faça você mesmo” periga virar um fim em si mesmo, Santogold – uma mulher que já passou por todos meandros da criação artística – fala que não, nem todo mundo pode ser artista. Mas ela sim e “L.E.S. Artistes prova isso com excelência. Sobre a melodia densa que sai dos sintetisadores, Santi rosna e late para os diversos embustes da indústria que ela ajudou e ainda ajuda a manter.
36) “Strange overtones” [MP3]
David Byrne & Brian Eno
Mais que uma canção, “Strange overtones” é um abraço entre dois amigos (e gênios) depois de um longo hiato sem colaborarem musicalmente. Para quem pode conviver com os discos dos Talking Heads e o primeiro álbum só da dupla (“My Life In The Bush Of Ghosts”, clássico de 81), nem parece que foi tanto tempo, devido a atualidade daquelas canções. A letra de Byrne até diz que que esse groove ficou fora de moda e essas batidas já ficaram velhas, mas é só ouvir “Strange overtones” para perceber que, dessa vez, ele está bem errado.
35) “Pop lie” [MP3]
Okkervil River
Se em 2007 o Okkervil River lembrou aos indies que acham que vivem em “Juno” ou “Trainspotting” que a vida não é um filme, em 2008 eles dizem que todas as canções pop são mentiras. E que melhor maneira de dizer isso do que fazendo uma bela canção pop? Sim, é tudo mentira e, como diz o próprio Will Shieff, “you lying when you sing along”. Mintamos todos então.
34) “Kids” [vídeo]
MGMT
Precisou que dois americanos regatassem uma música de 2005 para que new rave ainda fizesse algum sentido em 2008. A NME, que foi quem acendeu o primeiro neon dessa história, caiu direitinho. Nós também. Rave on!
33) “Graveyard girl” [vídeo]
M83
Quem diria que John Hughes seria o suprassumo do zeitgeist de 2008? Enquanto os anos 90 começam a raiar de volta, o Anthony Gonzalez pede sua atenção para mais um banho de nostalgia oitentista – talvez o último – tanto para quem viu “Gatinha & Gatões” no cinema, quanto para audiência da Sessão da Tarde.
32) “Tristeza” [MP3]
MoMo
É difícil para quem nunca ouviu o primeiro disco (“A Estética do Rabisco”, de 2007) do mineiro-carioca Marcelo Frota, entender o que “Tristeza” representa na sua obra. Se aquele é um disco de nuvens nebulosas e tempestades, na peça central de “Buscador”, Marcelo clama pelo sol e pela esperança numa das melodias mais belas do ano para, então, num solo de guitarra, encontrar a redenção.
31) “Raquel” [MP3]
Neon Neon
Dos vários senãos que possam ser apresentados contra o revival oitentista que marcou essa década, um dos que eu mais acho válido é essa tendência de alguns artistas exagerarem no resgate do que foi cafona, exagerado e descartável usando simplesmente o argumento do guilty pleasure. Ninguém precisa de dois Chromeos, certo? Como cara escolado nos bons sons que é, Gruff Rhys seguiu o caminho da elegância ao reciclar o synth-pop, o electro e o hip hop da fatídica década no seu projeto paralelo ao lado do produtor Boom Bip. “Raquel” é o melhor exemplo disso: extramente divertida e saudosista, sem nunca, nunca, subestimar o seu bom gosto.