Quem conhece o mínimo de Decemberists, sabe que é uma banda extremamente, como posso dizer, teatral. Músicas que são verdadeiras sagas de personagens obscuros, todos criados pelo genial e estudioso Colin Meloy. Nesta nova epopéia, Colin tenta algo diferente, ao invés da fórmula várias músicas várias histórias, o Decemberists tenta fazer uma ópera folk. Como era de se esperar de uma banda com ótimos músicos e um grande cantor/letrista, o resultado é fantástico.
“The Hazards of Love”, conta o conto de uma mulher chamada Margaret que é abusada por um animal/mutante; seu amante, William; uma rainha da floresta; e um “rake” (um buscador de prazer imoral) sangue-frio. Um detalhe dessa vez é que as cantoras Becky Stark e Shara Worden (My Brightest Diamond) fazem os vocais femininos principais e Jim James, Robyn Hitchcock, e Rebecca Gates fazem os papéis coadjuvantes e claro, Colin canta também.
O disco pode ser dividido em 2 atos com uma curta pausa. Da primeira música “Prelude” até a “The Wanting Comes In Waves/Repaid” acontece o primeiro ato, ai temos uma pausa de 2 minutos com “Interlude” então voltamos a história com “The Rake’s Song”. Numa primeira audição, a história parece um pouco complicada, mas ao longo do álbum fica mais fácil de entender a mente obscura de Meloy. Não é toa que em uma pesquisa feita, descobriram que Colin já matou 76 pessoas em seus discos, e esse novo, já é o segundo em números de morte. Só na genial “The Rake’s Song” Colin mata 5. O cara é um verdadeiro serial-killer musical!
“The Rake’s Song” conta a história desse “solteirão” que depois de casar e engravidar sua mulher, quer seus prazeres e sua liberdade de volta. Seu desespero aumenta pois sua mulher contínua a “botar” filhos para fora, até que ela então morre no parto junto com o filha (“Ugly Myfanwy died on delivery /Mercifully taking her mother along” detalhe, Myfanwy, vem de amada) e deixa para ele 3 outras “pestes” para cuidar. Sem muitas opções para ter sua liberdade de volta, acaba matando seus outros filhos, uma por intoxicação, outra por afogamento e o último matou com uma surra e depois queimou o corpo (“Charlotte I buried after feeding her foxblood/ Dawn was easy, she was drowned in the bath / Eziah fought but was easily bested /Burned his body for incurring my wrath”). A música já é boa sem os vocais, mas com a voz de Colin cantando essas frases de humor negro, fica impagável.
Além da música, Colin Meloy ainda propicia ao seu ouvinte uma verdadeira aula de inglês ao cantar versos como “ The prettiest whistles won’t wrestle the thistles undone”. As rimas complicadíssimas de Colin continuam fazendo qualquer professor de inglês enlouquecer e com que fãs dissequem a internet e o dicionário em busca de um sentido a suas palavras.
A parte instrumental do disco não podia ser melhor. Desde baladinhas folk no melhor estilo Decemberists, como em “Isn’t It A Lovely Night” e “The Hazards Of Love 2 (Wager All)”, até Led Zeppelin em “The Wanting Comes In Waves/Repaid”. A música consegue perfeitamente propiciar e acompanhar as várias emoções cantadas por Colin nas em suas letras. Hoje a banda parece mais ciente de suas capacidades, e como agora estão em uma grande gravadora, usam a abusam de complicadíssimas instrumentações. Será nescessario muito ensaio para tocar esse disco ao vivo.
“The Hazards Of Love”, como foi “The Crane Wife” anteriormente, é outro marco na história ainda breve desta fantástica banda. À medida em que os Decemberists se mostram cada vez mais versáteis, encontrando a dose perfeita entre narrativas obscuras e contos mais felizes, soam cada vez mais geniais. É um trabalho brilhante, que pode e deve entrar para o grande hall das óperas rock, como “Tommy” e “The Wall”.
[“The Hazards Of Love”, The Decemberists. 17 faixas produzidas pela própria banda. Lançado pela Capitol/EMI em Março de 2009]
[rating: 5/5]
[i]É um trabalho brilhante, que pode e deve entrar para o grande hall das óperas rock, como “Tommy” e “The Wall”.[/i]
Porra, que isso bloodypop? 😦
Não estou comparando, nada. Só simplesmente digo que o disco, deve estar lá sim. Não estou dizendo que é melhor que The Wall e Tommy, até mesmo porque são discos e estilos, COMPLETAMENTE diferentes. Mas como uma opéra rock, Hazards of Love, é sim um magnígfico disco! Coisa que o green day não conseguiu atingir com seu, mediocre American idiot
Então não confunda cú com bunda, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Eu não disse que você estava comparando discos nem nada, só achei que cagaram nessa frase.
Eu achei à altura de muitos discos épicos aí, sem nem saber direito da história, só ouvindo mesmo, avaliando musicalmente.
Agora, quando li isso, me animei.
Concordo com tudo.
Excelente disco. Pretensiosamente genial!