Los Hermanos
Depois de terem perdido o jogo-ganho que era a apresentação do Rio, o desafio que se colocava na frente dos Los Hermanos era do tamanho da platéia presente na Chácara do Jockey: mais gente e menos interessada neles, ameaço de chuva e a má repercussão do show do Rio.
Mas aí, surpreendentemente, deu tudo certo. A platéia cantou mais do que no Rio (num volume mais aceitável), o som estava cristalino, e a banda parecia ainda mais feliz e confiante do que tocando para os cariocas. Rolaram alguns errinhos, mas nada que estragasse a apresentação, a melhor da banda que vejo desde o começo de 2006 (um showzaço no Canecão com abertura do Hurtmold, se lhe interessa).
O futuro ainda é incerto – como vão soar as músicas novas, como lidar com a devoção exagerada do público, como se livrar da uncoolzice que grudou na banda – mas se tem uma coisa que ficou provada nesses dois show foi que os Los Hermanos ainda são o grupo de rock mais importante do país e, se quiserem, vão continuar sendo por um bom tempo. (Livio Vilela)
Kraftwerk
O Kraftwerk foi uma ótima escolha para intermediar os apaixonados shows de abertura e encerramento do Just a Fest deste domingo (22/03) em São Paulo. Entre um Los Hermanos excepcionalmente reunido (ninguém sabe se e quando voltam de fato) e um Radiohead que nunca tinha posto o pé no Brasil, a banda trouxe pela terceira vez seu aparato eletrônico ao país (já tinham vindo em 1998 e em 2004).
Da formação original, apenas Ralf Hütter subiu ao palco, já que Florian Schneider deixou o grupo em janeiro, depois de 40 anos. Mas pouco importa, já que a música que sai dos sintetizadores é basicamente a mesma. E a primeira música já diz mais ou menos isso: “The Man-Machine”.
O visual é impressionante, com os músicos à frente de um telão que transmite imagens que dialogam com as músicas, como uma corrida de bicicletas em Tour de France, por exemplo. Fora os telões laterais e a iluminação acima do palco, que formavam um jogo de luzes arrebatador.
O set foi bem curto, o menor da noite, mas nem por isso deixaram de faltar alguns dos maiores clássicos. Destaque para a sequencia Tour de France, Autobahn e The Model. Mais para frente, bonecos dão lugar aos músicos na execução de Robots, um dos pontos altos do show. Toda a temática das letras do Kraftwerk se resume nesse momento, em que a discussão dos limites entre o homem e a máquina toma corpo de fato.
“Musique Non Stop” é a última música, após cerca de uma hora de apresentação. A banda sai de cena, mas o som continua ainda por algum tempo ecoando nos alto-falantes. A música não para e, além disso, prescinde da ação humana, parece nos dizer o Kraftwerk. (Israel Bumajny)
Radiohead
É cruel, mas tem que ser dito: quem não viu os dois show do Radiohead, não viu de fato o Radiohead. Se perdeu o do Rio, ficou sem “No Surprises”, “Just”, “Street Spirit”, “Airbag”, “I Might Be Wrong” e “How To Disappear Completly”. Se não foi a São Paulo, não ouviu “Optmistic”, “Pyramid Song”, “Talk Show Host”, “Climbing Up The Walls”, “Exit Music”, “Fake Plastic Trees” e “Lucky”.
Pelo setlist, eu não ousaria afirmar que um show foi melhor que o outro. Mas não dá para deixar passar o fato que a banda estava muito mais confortável e feliz do que no Rio. A platéia menos reverente, o que deixou o clima todo show bem melhor. E, claro, o fato da banda ter saído do script da turnê para um terceiro bis com “Creep”, alucinando os 30 mil presentes. Não foi pouca coisa.
Se houve mandacas da produção, eu não vi. Sai correndo atordoado pisando na lama, antes que a catástrofe acontecesse. Peguei meu taxi e não consegui dormir a noite inteira no ônibus de volta ao Rio.
Não sei para você como é, mas eu pelo menos não consigo racionalizar o que foi a noite de ontem. Foi lindo. Lindoe complexo demais para explicar em palavras. (Livio Vilela)
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