O White Denim, grupo de Austin, EUA, não tem uma carreira fácil de se acompanhar. A banda não tem muito respeito aos formatos tradicionais de distribuição de música. Por exemplo, “Exposion” foi gravado em LPs e vendido somente nos shows, com uma arte parecida a um CD-R (CDs virgens, desses que vendem no camelô a menos de um real), apenas com o título 11 Songs escrito em uma fita adesiva. Distribuído nos shows no início do segundo semestre de 2008, Exposion foi lançado virtualmente em outubro e fisicamente (somente em vinil) no início de novembro. Não é difícil compreender, portanto, porque um disco lançado de maneira tão caótica passou desapercebido pelo grande público e por maior parte da crítica no fim do ano passado.
Já na primeira e descompromissada audição do álbum se percebe uma diferença marcante em relação aos trabalhos anteriores do grupo: Exposion tem uma forte unidade. Contra todas as expectativas e apesar da fragmentação de seus lançamentos, o White Denim produziu um álbum que conversa entre si de tal modo que você somente consegue saber, realmente, onde começa e onde termina cada música depois de várias audições. Não é só por isso, no entanto, que Exposion é o melhor trabalho do White Denim até então.
O álbum se inicia com “Don’t Look That Way At It”, faixa já presente em “Workout Holyday”, uma espécie de EP extendido do grupo lançado no início de 2008. A música não teve mudanças para “Exposion”, mas sua posição como primeira faixa do disco é um grande diferencial. Iniciando o disco, a música revela logo de cara uma das principais características do White Denim, pois quem escuta pela primeira vez algo como “Don’t Look That Way at It” imagina que o grupo simplesmente não sabe tocar sua própria música. O riff de guitarra em loop que inicia a canção é extremamente partido, a guitarra base que deveria sustentá-lo entra em tempo diferente e quando chega à vez do baixo e da bateria tudo se torna ainda mais caótico. Porém, de repente, não mais que de repente, todos os instrumentos se encontram e a faixa cresce em qualidade a cada segundo que passa. “Don’t Look That Way at It” é uma ótima imagem da música feita pelo White Denim: o grupo trabalha com um caos premeditado, cujo papel é preceder uma reorganização melódica. No entanto, essa reorganização, longe de deixar tudo acertado ou correto, apenas dá compreensão ao que antes não se entendia. A primeira faixa do disco traz em seu máximo a agilidade e a precisão da guitarra de James Petralli, o ponto mais alto da música feita pelo White Denim.
Outra faixa relevante no disco é “Ie Ie Ie”, boa música que demonstra a qualidade vocal de James Petralli. Aliás, há de se falar na maneira como Petralli canta. Um pouco estranho a princípio, ao longo do disco é fácil reconhecer a versatilidade do vocalista, cuja voz relembra às vezes o country texano e, em outras, um bom cantor branco de blues. As intervenções vocais do baixista Steve Terebecki também são interessantes, principalmente pela maneira com que os backing vocals são colocados durante a música. A faixa seguinte, “WDA”, é uma ótima música instrumental que, juntamente com “Migration Wind”, faz parte das faixas que servem de pontes entre as canções, mas que também têm grande valor por si só. É nessas faixas que o “caos” do White Denim se mostra mais disciplinado, com as guitarras de Petralli indo desde bonitas melodias a descompassos minuciosamente premeditados. Aliás, a precisão da guitarra em “Migration Wind” é impressionante. Tanto esta quanto “WDA” figuram entre as melhores do disco e sem elas a unidade de “Exposion” ficaria bastante ameaçada. E em claro diálogo com “WDA” segue-se “Heart From All Of Us”, provavelmente a melhor do disco. Lá estão várias das influências do White Denim, como o garage rock intercalado às intervenções de uma guitarra à la country music de Petralli, além da presença marcante do backing vocal de Terebecki. Além dessas, vale lembrar da boa “Shake Shake Shake”, primeiro single do disco, que não demonstra toda a capacidade criativa do White Denim mas é um bom rock de garagem. Outra boa canção que dá suas caras em “Exposion” é “All You Really Have To Do”, que já foi faixa de trabalho de “Workout Holyday”.
Mas é finalizando o disco com “Sitting” que o White Denim termina seu mais recente trabalho com algo surpreendente, para o que se espera do grupo. Nesta última faixa o piano se mostra mais presente e importante, as melodias das guitarras são belíssimas e o refrão é bastante envolvente. A música tem consideráveis diferenças com relação às outras, mas ainda assim dá para perceber a originalidade característica do White Denim. Além disso, gravada em “Workout Holyday”, “Sitting” foi ampliada substancialmente, em quase o dobro de sua duração inicial. Esse cuidado com a faixa que finaliza o disco demonstra também a preocupação do grupo em produzir algo que realmente representasse um álbum conciso e único. As faixas reutilizadas ou regravadas não atrapalham em nada essa unidade. Muito pelo contrário: juntamente com as novas faixas, formam todas elas um dos melhores discos lançados em 2008, cuja repercussão se estende até o corrente ano.
[“Exposion”, White Denim, 11 faixas com produção do próprio grupo. Lançado pelo selo Transmission em Novembro de 2008.]
[rating: 4/5]
Bela resenha, mas só tenho o Workout Holiday….não consegui achar o Exposion.