Disco: "It's Not Me, It's You", Lily Allen

Há uma diferença básica – e clara – entre o novo álbum da britânica Lily Allen, “It’s Not Me, It’s You”, e o seu predecessor, o aclamado “Alright, Still”. Enquanto o álbum de estreia da cantora era um balaio de canções escritas por ela a partir de melodias ou bases criadas por diversos produtores, “It’s Not Me, It’s You” tem todas suas músicas compostas em parceria com apenas um produtor/compositor: Greg Kurstin. Neste sentido, Kurstin é tão ou mais responsável pela sonoridade de “It’s Not Me, It’s You” quanto a própria Lily Allen. Assim, se você admirava o primeiro álbum de Allen por causa dos samples latinos de “LDN” ou o ska charmoso de “Smile” – para citar as duas canções arrasa-quarteirão de “Alright, Still”, é bom se preparar para o que há em “It’s Not Me, It’s You”.

Lily Allen – Not Fair

Neste novo disco, Allen se distanciou dos samples mais extrovertidos e se tornou para um electro pop mais ou menos sóbrio. De um álbum ensolarado, salpicado de citações a ritmos tropicais e de melodias alegres, Lily Allen passou para um segundo álbum, digamos, chuvoso, uma espécie de caminhada pela garoa paulistana. Há menos samples e mais citações à música norte-americana, como o country – em “Not Fair” – e o jazz – em “He Wasn’t There“. Mas, afinal de contas, por que “It’s Not Me, It’s You” é um disco “mais ou menos sóbrio”, e não, simplesmente, “sóbrio”? Pois há algo que, particularmente, não muda no segundo disco de Lily Allen: sua verve sarcástica de compositora. São principalmente as letras da britânica que sustentam e fazem de “It’s Not Me, It’s You” um disco agradável e não apenas mais do mesmo do pop atual. De fato, se comparado musicalmente com o primeiro, o segundo álbum de Allen é quase monotônico, mas está longe de ser monótono. Mas, do ponto de vista da composição, Allen se mostra mais madura, atingindo seu auge nas letras de “The Fear“, “Not Fair” e “Chinese“.

Lily Allen – Chinese

Se é assim, poderíamos dizer que as bases musicais criadas por Greg Kurstin são essencialmente maçantes. Não exatamente. Acontece que uma canção é uma canção e não uma simples junção de letra e música. “Fuck You“, por exemplo, seria apenas mais uma canção de base cliché, se não fosse sua (nem tão) inesperada letra. A ironia da letra de Allen, aliada a uma base cheia de frufrus, torna a música um tanto graciosa e, ao fim, boa e divertida. Por outro lado, Kurstin cria boas bases sonoras, como em “Not Fair“, que a princípio nada têm a ver com as letras de Allen. “Not Fair“, aliás, é um primor de composição de Allen e Kurstin, com um ótimo refrão, além de ser o auge da verve da britânica. O curioso é imaginar que uma das melhores canções cantadas por Allen neste ano não está no disco, aparecendo, na verdade, como b-side do single de “Not Fair”. “Womanizer”, cover da canção de Britney Spears que meio mundo regravou e que inspirou até comercial para metaleiros, tem em Lily Allen uma previsível mas ótima versão.

Lily Allen – He Wasn’t There

Não há nada excepcional no novo disco, como “Smile” ou “LDN”, excelentes canções que ficarão por um bom tempo na memória dessa década. Apesar do muito bom tríduo inicial – “Everyone’s At It“/”The Fear“/”Not Fair” – e canções acima da média como “Chinese” e “He Wasn’t There“, “It’s Not Me, It’s You” é apenas isso: um bom álbum de uma boa compositora pop.

[“It’s Not Me, It’s You”, Lily Allen. 11 faixas com produção de Greg Kurstin. Lançado pela Regal Records em fevereiro de 2009.]

[rating:3]


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4 respostas para “Disco: "It's Not Me, It's You", Lily Allen”.

  1. Avatar de Jader Maia

    Lily Allen é uma boa cantora. Pena que com um bom material em mãos, ela resolva fazer mais tititi do que trabalha-lo.
    Ótima resenha.

  2. Avatar de Vinhal

    Jader,

    eu não escrevi sobre a vida pública de Allen na resenha porque quis me ater apenas ao disco em si. Mas é claro que a vida pública dela também é motivo de discussão. Eu, por exemplo, acredito que Allen saiba lidar muito melhor com os paparazzi à sua volta do que a maioria das cantoras pop (talvez Kate Perry saiba melhor, mas ela ainda é um fenômeno menor e mais recente).

    As cantoras que estariam no “páreo musical” com Lily Allen – agora eu me lembro de Spears, Winehouse e Rihanna – têm um relacionamento muito mais complicado com os tablóides. Acho que dá para comparar até pelas músicas. Por exemplo, The Fear, de Allen, trata com muito mais propriedade desse universo do que Piece Of Me, de Spears (ainda que If U Seek Amy seja ótima se olharmos por esta ótica também!).

    Eu acho que Allen sabe aproveitar todo o burburinho em volta de si para promover o seu trabalho, enquanto Winehouse e Spears geralmente atrapalham suas vidas artísticas.

    Abraço!

  3. Avatar de Alê dos Santos

    Amo “He wanst there”. Escutei essa música umas 20 vezes seguidas. Adoro aquele barulhinho e aquele ar anos 50, mas só essa música que é boa no CD todo. hahahahaha!

  4. Avatar de Eduardo Iribarrem

    gosto bem mais do q o primeiro, apesar dela se afastar um pouco do estilo que a caracterizou, o cara do bird and the bee é muito bom.

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