“A Vontade Superstar” (YB Music, 2009), segundo disco do paranaense radicado em SP Bruno Morais, caiu nos meus ouvidos por acaso, num dos vários links dos vários blogs de vários links. Talvez tenha sido a capa sutil, o título que inintelegível fora de contexto, ou só a mania de baixar mais coisa do que devia que tenha me levado até ele, mas isso realmente não importa agora. Ele está aqui e anda provocando pequenas e silenciosas revoluções.
“Pequeno” e “silencioso” talvez sejam duas palavras que, num primeiro momento, descrevam bem o trabalho de Bruno Morais. A voz é herança dos cantores que cantam baixo e emocionam sempre. As melodias e letras são daquelas que, mesmo sem perdir licença para entrar, não fazem balbúrdia desnecessária. São daquelas que ficam e aninham-se, confortáveis, em meios aos sentimentos. Uma raridade, não tenha dúvidas.
Só que resumir “A Vontade Superstar” na miudeza brilhante de suas canções (como é provável que aconteça por aí) talvez jogue uma sombra deselegante sobre um dos aspectos mais interessantes do disco: sua produção. “Vontade” é um álbum de fone de ouvido, em que os detalhes mais legais só aparecem de verdade com o tempo. Bruno, auxiliado pelo produtor Guilherme Kastrup, construiu uma obra rica em timbres, texturas e climas, que ao invés de parecer uma colcha de retalhos, está mais para aquele caminho de mesa que a sua avó se orgulha de ter levado anos para tricotar.
Os arranjos entendem que exuberância e delicadeza podem sim andar juntas e incluem vozes, sopros, uma variedade imensa de instrumentos de corda, órgãos, casiotones, teclados, batidas eletrônicas e um tear. Uma riqueza comprovada já na primeira faixa, “Hino dos Corações Partidos F.C.”, em o canto de Bruno vai convocando uma por uma cada peça do arranjo: primeiro surge o barulho do tear, em seguida a cama de violões, por último um coro em que várias vozes se encontram – e provavelmente uma delas é seu coração.
Em tempos que os discos vagam por aí sem capa e sem crédito, este aqui é um trabalho que merece ser degustado com encarte na mão para ir rastreando quem ou o que são aqueles sons.
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