
Sou da opinião de que, para saber se uma banda é realmente boa, é preciso vê-la ao vivo. Essa tese nunca fez tanto sentido para mim quanto na noite de sábado (18), quando Cat Power se apresentou no Via Funchal, em São Paulo, em sua terceira vinda ao país (as outras foram em 2001 e 2007, esta no Tim Festival).
Por melhores que sejam seus discos, eles não dão a real dimensão de quão bela é sua voz. A apresentação começou com um pequeno atraso, por volta das 22h20, talvez pela chuva torrencial que caía na cidade. Logo de cara, Cat Power mandou sua versão de “The House of Rising Sun”, dos Animals.
O repertório da turnê atual é baseado no último disco, “Jukebox”, em que ela canta músicas de outros artistas e no EP “Dark End of the Street”, além de algumas do “The Greatest”, de 2006 e do “The Covers Record”, este também de versões, como o nome deixa explícito. Apesar de que dizer que o que Cat Power fez nestes discos são covers seria injusto. Ao cantar uma música de outra banda ou artista, ela não faz uma mera versão. Ela se apropria, desconstrói, transforma a música e nos entrega algo completamente novo.
Ao cantar essas músicas, Cat Power não só empresta sua voz às letras dos outros. Ela entrega sua alma. O público de três mil pessoas a vê ali, mas ela está longe. Ela não canta para eles, ela canta para si, absorta e entregue a uma viagem pessoal. Enquanto canta, ela dobra os joelhos, fecha os olhos, dança nas partes instrumentais, ao som dos Dirty Delta Blues, excelente banda que a acompanha.
Ao contrário das grandes produções, tudo é contido neste show. O cenário não conta com nenhum objeto, à exceção de uma vela, colocada em cima do teclado, que queima durante a apresentação inteira. A iluminação é mínima, no limite do tolerável, com luzes azuis, vermelhas e verdes envolvendo a cantora.
Depois de 40 minutos, a cantora, o baterista Jim White e o baixista Erik Paparazzi saem do palco, deixando o tecladista Gregg Foreman e o guitarrista Judah Bauer solando por alguns minutos. Ela volta e canta uma música apenas com os dois. Depois é a vez destes saírem, para Cat Power cantar acompanhada de baixo e bateria. Na música seguinte, já estão todos reunidos novamente.
“I Lost Someone”, “Metal Heart”, “Lived in Bars”, “I Don’t Blame You”, as músicas se sucedem, com aplausos calorosos antes e depois de cada uma. Cat Power não fala entre uma canção e outra, só mandou um oi no começo da apresentação.
Após duas horas, o show termina com “Angelitos negros”. A cantora se aproxima dos fãs, tira fotos, distribui autógrafos. Chan Marshall (seu nome real) não está nem aí para rótulos grandiosos como diva ou pop star. É só uma mulher simples, com uma voz abençoada.
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