Perdido ali no meio dos nossos outros 39 artistas para ficar ligado em 2009, o quarteto londrino The XX parecia um patinho feio da lista do início do ano. Na época, o myspace tinha poucas faixas, todas demos, e as que saltavam aos ouvidos – fui descobrir depois – eram duas covers, “Teardrops” do grupo oitentista Womack & Womack e “Hot Like Fire” da Aaliyah. Isso me fez deixá-los um pouco de lado até duas semanas atrás, quando fui surpreendido pelo link do disco de estréia da banda, “XX” (Young Turks, 2009).
E tudo que tenho que dizer é WOW.Ser pego de surpresa é sempre bom, mas o caso aqui foi um pouco mais embaixo. Por mais que aquelas demos (o mais lo-fi possível) fossem promissoras, a maneira como eles acharam uma sonoridade tão própria e tão simples deixa boquiaberto até os mais prevenidos. Imagine o The Cure como um projeto trovador solitário de Robert Smith. Daí tire dele todas aquelas referências deprê-bad-trip e as substitua por Marvin Gaye, Prince e gente que sabe como as coisas do coração e dos quadris funcionam. Agora pense numa mulher sussurando tudo isso. O que estamos falando aqui é de uma espécie de pós-punk tocado como se fosse folk (o instrumental é esparso, os acordes são relaxadoss), encharcado de harmonias R&B, que são responsáveis por não deixar nada solto demais.
Junto com outro disco vindo de Londres (“Two Dancers”, do Wild Beasts), “XX” é possivelmente o álbum mais sexy de 2009. O segredo está na dinâmica criada pela vozes de Romy Croft (vocalista e guitarrista) e Oliver Sim (baixista e principal compositor). Todas as músicas do The XX são diálogos, DRs musicadas, flertes descompromissados, tudo cantado aos sussuros e gemidos. Se ela fala que é dele e que nunca vai precisar sair dali (“Islands”), ele está confuso sobre onde começa um e termina o outro (“Basic Space”). Ela diz que seu coração “pulou um batimento” (“Heart Skipped A Beat”), ele fala que ela pressiou o suficiente para deixa-lo paralizado (“Crystalized”).
Embora os singles sejam “Crystalized” e “Basic Space”, o HIT provavelmente vai ser “Islands”, groove reto de 2:40 que faz perder a respiração quando Romy chega se declarando (“I am your now, now I don’t ever have to leave”). Já “Heart Skipped A Beat”, minha preferida, cozinha o ouvinte até o último minuto, te fazendo implorar pelo refrão, que chega destruindo nos últimos segundos. “Night Time” é tensa e triste, mas pode virar um prato cheio para remixers mundo a fora. “Shelter” passeia no limite do exagero, com seu misto de romantismo e culpa adolescente, enquanto “Stars” encerra o álbum num clima mais emocional.
[MP3] The XX – Islands
[MP3] The XX – Heart Skipped A Beat
Fui seco procurar as referências do soul e do R&B e fiquei na mão. É simpático, mas só achei The Cure no som desses XX.
@César Márcio, os vocais?
No geral…
Como você falou, tem bastante The Cure aí. Mas Marvin Gaye e Prince… ficou só na intenção…
@César Márcio, se você reler vai perceber que o que eu não digo que Marvin Gaye e Prince são influências claras deles.
o que tem de música negra na música deles é algo bem mais contemporâneo, mais a ver com o R&B pós Mary J Blige que todo mundo escuta nas rádios. tanto é que eles ficaram conhecidos por um cover da música Aaliyah e citam Rihanna como referência em entrevistas.
As referências no som deles, para além das óbvias e citadas, vai muito além disso. Tem um certo shoegaze ali no meio, muito Young Marble Giants (citada pelos proprios na pagina da rogue trade) e acho eu, e espero que sim, o disco de estreia do “Thou” “put us in tune” mas isso das referencias é uma conversa quase sem sentido quando se ouve as cançoes lindas que eles fazem. Dia 09/10 vejo-os em Berlim e quero ver se ao vivo é mesmo tudo aquilo que se “vê” no disco.
Um belissimo blogue, que descobri, claro, procurando por “the XX”