Mais de mil pessoas passaram pelo Centro de Convenções de Pernambuco em Recife para a primeira noite do No Ar Coquetel Molotov, com shows lotados de Beirut e Those Dancing Days e boas surpresas como Ex-Exus e Sebastién Tellier.
Depois de uma semana de mostra de filmes, palestras, workshops e pocket shows, o festival finalmente deu início a parte central de sua programação por volta das 17h30 quando os quatro integrantes do Ex-Exus subiram ao palco do Auditório Tabocas com vestidos femininos e caras pintadas.
A banda é realmente pouco convencional e talvez por isso o público se mantivesse a metros de distância durante todo show. Por “pouco convencional” entenda-se que é bastante difícil tirar conclusões sobre o grupo num primeiro momento. As canções são pesadas, barulhentas, macabras e ainda sim soam viajantes. Às vezes lembram Fantômas, Mogwai, mas nunca de uma maneira óbvia, gratuita. Os mais familiares com sons experimentais podem até aproveitar a viagem, mas há a clara sensação de estar lidando com algo que se compreende totalmente.
Para causar tal impacto, os Ex-Exus ainda usam de certas teatralidades. Logo após a primeira música, jogam sal grosso no vão que fica entre público e palco, e declaram “abertos os trabalhos”. Mais para frente, jogam várias cópias do seu primeiro EP (“Terroristas Freelncers”, disponível no myspace, mas que não faz jus ao poder de fogo ao vivo). No final, encerrando os trabalhos, entram no palco dois personagens encenando a morte de uma galinha preta, em referência aos rituais de candomblé de onde a banda tira o seu nome.
Se os Ex-Exus de certa forma foram aprovados pelo que havia ali de inusitado, os mineiros do Dead Lover’s Twisted Hearts pecaram pela obviedade. É a segunda vez que vejo a banda ao vivo e a impressão que fica é a mesma: falta alguma coisa. Já prejudicada pelo som grave e abafado que iria se repetir nas outras apresentações do Auditório, a banda apresentou seu repertório de riffs simples, quase burocráticos, ora mais post-punk, ora quase country, que se não irratam, estão longe de empolgar. “No More Drama” continua sendo uma boa canção, mas infelizmente é exceção.
Desconhecida no Brasil, a sueca Britta Persson foi outra surpresa da noite. Apresentando-se apenas com guitarra e bateria, Britta segurou o público na voz e na força das suas canções, que soam como se PJ Harvey e Isobel Campbell fossem a mesma pessoa. Ela é extremamente simpática e conta diversas histórias durante a apresentação, inclusive que compôs uma das músicas inéditas pensando na turnê do Brasil.
Fechando a primeira noite de shows no Auditório Tabocas, as cinco meninas lindas do Those Dancing Days pareciam maravilhadas com a recepção do público (destaque para guitarrista, que não parou de sorrir um minuto), que intercalava gritinhos histéricos e dancinhas com as letras das músicas da banda. Mesmo com o pior som da noite (grava, sem a sutileza necessária), fizeram o show mais animado da primeira etapa do festival, o primeiro em que dava para ver artista e público na mesma vibe.
Os shows no imponente Teatro Guararapes só começariam quase uma hora depois, tempo o suficiente para aproveitar as atrações off-stage do festival. Espalhada pelo hall do centro de convenções, uma feira cultural oferecia stands onde era possível comprar camisetas bacanas, vinis, quadrinhos e CDs, além de matar a sede e a fome. Por ali também se instalou o Das Caverna Home-Studio Móvel, que trouxe o estúdio de China e de alguns Mombojós para o festival, com a possibilidade de músicos se inscreverem e gravarem ali mesmo suas músicas.
Enquanto isso, o Teatro Guararapes já começava a lotar. O primeiro show da noite, Jam da Silva, foi visto com reverência ímpar, que casou bem com a sonoridade climática da obra do multiinstrumentista. Acompanhado de uma banda precisa (destaque para tecladista, que ajudava com os poucos vocais), Jam mostrou canções do seu primeiro álbum, “Dia Santo”, lançado em 2008, que tiveram ainda auxílio de boas projecções em vídeo.
A paulistana Tié entrou no palco com casa cheia e incrivelmente animada com sua presença. Mesmo de longe, ela parecia surpresa com a boa recepção do público, que cantou várias músicas do seu primeiro álbum, “Sweet Jardim”. Delicadas e singelas, as composições da moça poderiam soar perdidas na multidão que se espremia à espera do Beirut, mas brilharam.
Já com Thiago Pethit o público parecia um pouco mais frio e só se soltou quando o cantor deu sua quase-rebolada no meio de uma das músicas. Talvez tenha sido o repertório que privilegiou suas canções em inglês, mais fracas. Mesmo assim houve bons momentos como “Birdhouse” e os duetos com a amiga e parceira Tié.
Acompanhado de uma banda afiada, o francês Sebastien Tellier fez o melhor show da noite, mas infelizmente o mais curto. Figuraça, Tellier dançava e se arrastava pelo palco durante as canções (uma espécie de AIR roqueiro ou Phoenix sem refrão), além de tentar várias conversar com o público – que claramente não entendia o que ele falava, numa mistura de inglês, francês e português, que mais parecia embromation.
Num dos melhores momentos do show, Tellier embarca com sua banda (guitarra, bateria, teclado e sintetizadores) numa longa e deliciosa jam, que se estendeu por uns bons e catárticos 5 minutos. Pena que com o avanço da hora a produção teve que cortar grande parte do show.
Logo que Tellier saiu o palco, o público já começou a se movimentar dentro do teatro, todo mundo querendo chegar mais perto de Zach Condon e Cia. Com cadeiras e corredores completamente lotados, dava para prever algum desastre como o acontecido no show de Salvador, mas após o esforço da produção, a apresentação transcorreu sem maiores problemas.
Como acontecido no Rio e em São Paulo, a comoção do público era imensa, como todo mundo cantando tudo (incluindo as partes instrumentais) o tempo todo. “Elephant Gun”, terceira música do show, foi obviamente a catarse coletiva esperada, embora “Postcards from Italy” e “A Sunday Smile” tenham me emocionado mais, pessoalmente. Ainda teve direito a versão de “Aquarela do Brasil” e um terceiro bis, com Zach e seu ukulele sozinhos no palc. Uma grande noite, sem dúvidas.
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