
BP: Como surgiu a idéia de montar a nova banda? Quem convidou quem para participar deste novo projeto?
Thiago Corrêa: No começo estávamos o Leonardo e eu. Fizemos algumas apresentações acústicas em cafés de Los Angeles no começo de 2006. Testamos algumas composições em português mesmo e gostamos muito da receptividade das pessoas com a música nos EUA. Ficamos mais confiantes pra tentar uma coisa nova. Depois, quando voltamos pro Brasil, resolvemos convidar alguns velhos amigos. Chamamos o Pedro, o Henrique e fizemos um show. Depois chamamos a Jennifer e a partir daí ficamos com essa formação até 2009. Esse ano o Pedro, que é também ilustrador (a capa do nosso disco é assinada por ele), se mudou pra Sampa e o Bruno Santos entrou na banda como bateirista.
BP: A banda tem um diferencial muito bacana. Juntam três vozes, além de trazer instrumentos não muito convencionais no rock, como o ukelelê e cavaquinho. Conte para a gente como apareceram essas misturas.
Thiago Corrêa: Não foi muito pensado não. Tem aquela coisa de ouvir a música na cabeça e sair buscando aqueles timbres por aí. Gostamos do novo. De tentar coisas não tão confortáveis pra gente. Isso motiva o pessoal, que fica sempre procurando alguma alternativa pra criar. As várias vozes tem um papel importante na identidade do som e nós amamos isso. É natural porque todo mundo compõe. Então quem tem vontade de cantar, tem espaço.
BP: Grande parte da composição de vocês do Leonardo Marques ou são de sua autoria. Mas como rola esse processo? Alguém escreve uma letra e leva para todo mundo opinar? Ou quem faz a letra também é responsável pela melodia?
Thiago Corrêa: Não existe uma dinâmica definida nesse processo aí. Tem muita variável. Cada um tem um jeito de compor. Às vezes fazemos músicas e letras juntos, mas existem os momentos que algumas músicas pulam pra fora de você e já estão praticamente prontas. Uma coisa que não muda é a liberdade que a gente faz questão de manter em relação a esse processo criativo. Todo mundo pode dar sua opinião e tentar melhorar tudo que é feito. Isso é até parte do conceito da “sociedade do crivo mútuo” que dá nome ao primeiro CD
BP: Fala um pouco mais para gente sobre a “sociedade do crive mútuo”.
Thiago Corrêa: O conceito “sociedade do crivo mútuo” nasceu das nossas conversas enquanto estávamos compondo músicas e da nossa dificuldade de criticar as composições alheias sem ferir o compositor. Compor é um momento delicado aonde as pessoas se expõem e fica fácil ser atingido por um comentário mal colocado ou uma crítica mais forte. A “sociedade do crivo mútuo” nada mais era no começo da idéia, um meio de se trabalhar sem ego em esquema de cooperativa, aonde as pessoas convidadas para o círculo entram de boa fé para levar as composições ao melhor lugar comum. Estendendo o conceito, a sociedade também propõe que as pessoas que dela participam, estão de certa forma, amparadas artisticamente pelas outras, podendo contar uns com os outros para realização de atividades e projetos artísticos.
BP: Já que falamos em composição, as músicas de vocês falam muito sobre amor. Seja dos corações partidos ou apaixonados (correspondidos). Isso foi pensado ou é apenas uma coincidência? Estava todo mundo apaixonado quando escreveu sua canção?
Thiago Corrêa: Esse disco foi um grande desabafo sentimental mesmo. Foi concebido num momento de mudanças muito grandes e incertezas quanto ao futuro. Estávamos recém chegados ao Brasil depois de 5 anos. Tentando nos achar em meio a tudo isso. São músicas extremamente sinceras no que diz respeito ao assunto. Acho que isso trouxe toda essa carga sentimental pra elas. E é claro, que relacionamentos terminados ou recém começados fazem parte e são muito bons pra escrever música. Estamos constantemente apaixonados, seja pela novidade ou pela nostalgia.
BP:Vocês ganharam destaque no Festival Conexão Vivo. Como foi a experiência? O festival abriu portas para tocar fora de Belo Horizonte? Fazer contatos?
Thiago Corrêa: O festival foi realmente muito importante . Já tínhamos experimentado essa sensação quando participamos do Jambolada em Uberlândia. Festivais como esses são a maneira mais expressiva de chegar a um público interessante com rapidez. O que a gente quer mesmo é mostrar a música para o maior número de pessoas possível. Nada melhor que um festival com boa infra pra fazer isso.
BP:E a divulgação do primeiro disco? Além de show na cidade, há perspectiva de shows pelo Brasil?
Thiago Corrêa:Fizemos o lançamento em 2008 e dentro das possibilidades da realidade independente, temos rodado com esse CD. Firmarmos a parceria com o selo Ultra Music, que faz a ponte pra que esse disco esteja disponível na maior parte do país. Já estivemos em várias cidades do interior, já fomos pra São Paulo e em setembro estaremos no Rio. Gostamos muito de viajar e tocar pra novas pessoas. Em BH a gente tem o prazer de tocar pro nosso público, o que é sempre muito bom e nos faz realmente ter aquele sentimento bom de estar em casa. Mas estamos o tempo todo em busca de novas possibilidades.
BP: Hoje, pode-se dizer que está mais fácil ser uma banda independente. Com o advento da internet dá para fazer um perfil no Myspace e divulgar o seu trabalho para o mundo. Como é a experiência de vocês nesse campo? Como vocês lidam com isso? Ajudou mesmo? Ficou mais fácil?
Thiago Corrêa: Infinitamente mais fácil. Quando começamos a ter banda não era assim mesmo. Era bem mais lento pra ser conhecido um pouco além das fronteiras da sua rua. Hoje temos fãs no país todo e até fora dele, que conheceram a banda exclusivamente pela internet. Damos sempre muita atenção a isso e utilizamos esse espaço para trazer novidades sempre que possível. É um veículo democrático e de certa forma bem honesto porque dá pra ver quando tá dando certo ou não.
BP: Há sempre a dúvida do que é melhor: CD independente ou por um selo? Vocês optaram por gravar o “Sociedade do Crivo Mútuo” por um selo, o Ultra Music. Como se estabeleceu o contato entre as duas partes? Vocês mandaram um EP?
Thiago Corrêa: Na verdade o disco foi gravado aqui em casa mesmo, no quarto, de forma totalmente independente. O que a gente fez com o disco depois de lançado, foi procurar alguém com um mecanismo eficiente de distribuição e divulgação. O Barral (dono do selo Ultra) já tinha visto a banda no comecinho e desde aquela época a gente conversava sobre trabalhar juntos. As bandas independentes tem que manter o foco aberto para todas as partes do processo musical que atravessam a música, como a distribuição, divulgação, produção de shows, etc. Mas não se pode negar que um apoio especializado de um selo pode fazer a diferença na hora de unir tudo isso. Além do mais, podemos gastar mais tempo com o principal que é aperfeiçoar a música.
BP: Mesmo com o selo, o disco está para download gratuito no site da Trama. Por que esta escolha? Isso não atrapalha na venda dos discos físicos?
Tiago Corrêa: Tanto a banda quanto o selo acreditam mais na força da canção divulgada, sem formato definido (CD, vinil, MP3) , do que na venda de discos. Todos os artistas sofrem financeiramente com essa queda nas vendas. Só que ninguém mais hoje em dia pode depender de vender discos pra sobreviver. Ainda vale a pena fazer o disco físico, na minha opinião. Tem pessoas que valorizam a experiência de ter a capa na mão, as letras e tudo isso. Eu sou uma delas, mas não somos a maioria.
BP: Belo Horizonte tem uma cena independente forte, mas tem muita gente que não conhece. Você pode dar um panorama para quem não conhece a cena? Festivais, bandas que merecem ser citadas.
Tiago Corrêa: Essa pergunta é dificil porque não dá pra ser justo falando apenas de alguns. Mas eu pessoalmente acho muito legal a iniciativa do Outrorock, que é promovido por bandas daqui de BH com apoio da prefeitura e o Garimpo, festival que traz gente interessante do país pra tocar aqui.
Deixe um comentário