Disco: "Sem Nostalgia", Lucas Santanna

sem nostalgia

O novo disco de Lucas Santanna, “Sem Nostalgia”, foi criado com base em um instrumento específico: o violão, que no Brasil adquiriu uma aura de quase-gênero, por exemplo no que se chama “voz e violão”. No entanto, o disco de Lucas não é mais “um banquinho, um violão / esse amor, uma canção”. A partir dessa limitação instrumental – e limitar é o fundamento de qualquer trabalho com um objetivo estético – Lucas Santanna desenvolve ao longo de todo disco uma outra presença para o violão como instrumentação básica e definitiva.

http://www.goear.com/files/external.swf?file=b649d99“Super Violão Mashup”

Já se chamou bastante atenção, pela blogosfera e imprensa afora, às semelhanças de “Sem Nostalgia” com o álbum fundamental de Tom Zé, “Estudando o Samba”, de 1973. E, de fato, tanto um baiano como o outro se apossam dos seus temas e os desconstroem em um grupo de canções que, em seu conjunto, dão a impressão de que o artista tentou levar o tema escolhido – o violão ou o samba – ao seu paroxismo. Porém, parece claro que é Tom Zé quem se aproxima mais dessa impossibilidade, até porque abarcar toda e completamente a estética do violão na música brasileira é algo impraticável para um disco, e tampouco é a tarefa a que Lucas Santanna se propõe.

A inspiração para o disco se mostra em forma de homenagem na primeira faixa, “Super Violão Mashup”, um mashup de violões de alguns dos mais importantes artistas ligados a esse instrumento na música popular brasileira da segunda metade do século XX: Caymmi, Baden Powell e Jorge Ben. Está certamente entre as melhores aberturas para um disco neste ano e um dos  melhores trabalhos já realizados por Lucas. É também o timbre dos violões dos artistas citados – somado à ambiência característica da produção dos álbuns de exílio de Caetano Veloso – que inspira a produção obscura de “Sem Nostalgia”. Com baixos e baterias sendo feitos exclusivamente por meio de sons retirados das cordas e do corpo do violão, Lucas Santanna fez um dos melhores álbuns da sua carreira, não só pelo conceito bem amarrado ao longo do disco, mas principalmente porque também conta com suas composições mais bem acabadas. A participação de artistas como Curumin, João Brasil, Buguinha Dub e Ronei Jorge na criação e produção também acrescenta muito, mas é a presença de Arto Lindsay, como principal parceiro na composição, que prevalece.

http://www.goear.com/files/external.swf?file=8c7cca8
“Amor em Jacumã”

Entretanto, o disco ainda peca em alguns aspectos. Apesar de muito boas composições, algumas músicas têm inspiração forte até demais, o que pode fazer o ouvinte mais atento a desistir de reconhecer nelas o trabalho de Lucas e começar a buscar somente as referências musicais do disco. Enquanto Lucas Santanna aparece como centro em composições como “Who Can Say Which Way” e “Hold me In”, em outras músicas são as referências que tomam a dianteira. Até a voz do cantor muda de acordo com a referência, como em “Cira Regina e Nana”, “Amor em Jacumã” e “I Can’t Live Far from my Music”, que relembram mais que o bastante Jorge Ben, Novos Baianos e Caetano Veloso, respectivamente. São ótimas músicas, no entanto, que conseguem prestar boa homenagem aos artistas. Mas nelas Lucas acaba brilhando com a luz dos outros. De fato, o leitor não precisa encarar isso como um problema. Mas, se levarmos em conta as pretensões e o talento de Lucas Santanna, tampouco é um mérito.

[“Sem Nostalgia”, Lucas Santanna. 12 faixas com produção de Lucas Santanna e uma galera, lançado por YB Music em 2009. O disco pode ser baixado no site oficial de Lucas Santanna, Diginois]

[rating: 3,5/5]


Posted

in

by

Tags:

Comments

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: