50) “Dominos”, The Big Pink
49) “Keep It Goin’ Louder”, Major Lazer feat. Nina Sky & Ricky Blaze
48) “Idiot Heart”, Sunset Rubdown
47) “Ecstasy”, jj
46) “Sem Cais”, Caetano Veloso
45) “French Navy”, Camera Obscura
44) “Mickey Quebra Barraco”, André Paste
43) “A Sea Within A Sea”, The Horrors
42) “Moth’s Wings”, Passion Pit
41) “Prejuízo”, Numismata part. Luiz Melodia & Thadeu Meneghini
40) “Deli”, Delorean
39) “Maruimstad”, Nuda
38) “Watching The Planets”, The Flaming Lips
37) “I Don’t Like Your Band”, Annie
36) “Die Slow”, HEALTH
35) “Lust For Life”, Girls
34) “You Got The Love (The xx remix)”, Florence And The Machine
33) “Love Cry”, Four Tet
32) “Seven (The Twelves remix)”, Fever Ray
31) “I Want You To Know”, Dinosaur Jr.
30) “Cousins”, Vampire Weekend
29) “Daniel”, Bat For Lashes
28) “Hyph Mngo”, Joy Orbinson
27) “What Would I Want? Sky”, Animal Collective
26) “Bay Of Pigs”, Destroyer
25) “Marrow” [vídeo]
St. Vincent
Ao longo de seu segundo e cinematográfico álbum (“Actor”), Annie Clark muitas vezes desloca o espaço de fantasia criado por ela para sustentar a metáfora do álbum (do ofício do ator) para um lugar mais próximo à realidade. “Marrow” é o melhor desses momentos. A faixa se inicia com Clark cantando baixinho, num quase-sussuro. Então a música se quebra. A distorção estourada do contrabaixo e dos metais toma de impulso a música, como se Annie nos desplugasse da Matrix e nos jogasse de volta ao mundo real. (Matheus Vinhal e Livio Vilela)
24) “Counterpoint” [vídeo]
Delphic
A faixa, produzida por Ewan Pearson em Berlin, dá um um rumo ao synth-pop depois dos vários acertos de 2008. Enquanto o Friendly Fires nos deixou esperando por mais (“Paris” é ótima, mas era só aquilo?) e a euforia de pista do Cut Copy agora parece um sentimento tão distante quanto utópico (“Eternity One Night Only” até quando?), o Delphic propõe com“Counterpoint” uma espécie rave emocional e épica, com raíses bastante claras. Ouve-se New Order (“True Faith”, “Thieves Like Us”), ouve-se Underworld (“Born slippy”, sim), mas há algo de diferente pelo fato da música, nem no clímax, chegar às vias de fato e te colocar para dançar. É um hino, quase. Nesse ponto, lembra o último disco do M83 (“Saturdays = Youth”), mas se Anthony Gonzalez seguiu rigorasamente o caminho da nostalgia estética, o Delphic. parece ter os pés ficados no presente, mesmo que isso seja num âmbito estritamente pessoal – “Counterpoint”, basicamente, é uma canção de amor. E das melhores. (Livio Vilela)
23) “Quick Canal” [vídeo]
Atlas Sound feat. Lætitia Sadier
Bem menos randômico do que poderia parecer, a parceria de Bradford Cox com a voz do Stereolab conseguiu ofuscar a primeira versão de “Quick Canal”, presente na primeira e proibida versão de “Logos”. Aqui Cox finalmente acerta na sua mistura de ambient music, psicodelia-de-quarto-escuro, krautrock e pop clássico sessentista. Guiada pela discreta e narcótica voz de Lætitia, a faixa é uma viagem pelo imaginário de uma das figuras mais instigantes do rock hoje. (Livio Vilela)
22) “Bubuia” [streaming]
Céu part. Thalma de Freitas & Anelis Assumpção
“Já que não estamos aqui só à passeio / já que a vida enfim não é recreio / eu vou na bubuia, eu vou”, canta Céu no momento mais brilhante de “Vagarosa”. Como uma tardia canção definidora de caráter, “Bubuia” deixa claro o modus operandi como força artística: constante, mas sem atropelos. Amparada pelas suas Negresko Sis (Thalma e Anelis), Céu está aqui no topo do seu jogo, sem nenhum competidor a vista. (Livio Vilela)
21) “Hooting & Howling” [vídeo]
Wild Beasts
De patinho feio a cisne exuberante, a trajetória do Wild Beasts até aqui tem sido exercício de conexões estranhas, mas acertadas. Em “Hooting & Howling”, o quarteto de Essex reescreve a sua maneira a história do rock britânico, ao injetar tesão e afetação barroca no post-punk, imaginando um mundo em que o Roxy Music foi conceitualmente maior que os Sex Pistols. E fazem isso sem arregaçar as camisas. (Livio Vilela)
20) “Islands” [vídeo]
The xx
De todas as bandas de 2009, o The xx foi a que mais deixou pontos de interrogação na cabeças das pessoas. Quem eram eles? Onde eles estavam na primeira metade do ano que ninguém tinha os percebido? E, principalmente, como eles faziam algo tão simples soar tão incrível? As respostas não são tão fáceis, como bem mostra “Islands”. Até o fim do primeiro quarto de faixa, vocal e instrumentação caminham em linhas paralelas e distantes, então, numa pequena pausa, quando sobra apenas o baixo para fazer cama para voz de Romy Croft, toda a música pop aparece resumida em uma frase: “I’m yours now”. Não vem dizer que fácil. (Livio Vilela)
19) “Escolher Pra Quê?” [MP3]
Cidadão Instigado
Na história do Cidadão Instigado, o fim do mundo sempre esteve ali insinuado nas circunstâncias pelas quais Catatau nos mostra seu mundo. A diferença de “Escolher Pra Quê?” para outras faixas similares do Cidadão é a maneira como o apocalipse à espreita nos é apresentado. O ponto é que não importa o quão próximo esteja o fim, ele sempre vai estar próximo. Daí escolher pra quê? E no simples urro juvenil, ele encerra um problema tão épico quanto rock progressivo que acompanha suas palavras. (Livio Vilela)
18) “Deadbeat Summer” [vídeo]
Neon Indian
Alan Palomo nasceu em 1988. Não viveu, portanto, a maior parte da produção musical dos anos 80. O que permite concluir que sua música é um caso simples de “nostalgia emprestada dos anos 80 não lembrados”, citando a frase mais exata que já se falou sobre tanta banda que se vê por aí. O que diferencia Alan de seus competidores é a incrível capacidade que ele tem de imaginar através de seus teclados e sintetizadores vintage, um mundo que ele não viu, mas sente pulsar nos ouvidos. Assim, “Deadbeat Summer” parece vir de uma estação AM perdida no imaginário de Palomo, (obviamente) ensolarada e um pouco pateta, em que a música do Neon Indiam seria (e é) um hit certo. (Rafael Abreu e Livio Vilela)
17) “Young Hearts Spark Fire” [streaming]
Japandroids
Na essência, os Japandroids trabalham com o mesmo tipo de desespero que são matéria-prima de grupos “sérios” como Arcade Fire e Radiohead. Brian e Dave são, como eu e você, os insetos esmagados no chão que cantava Thom Yorke lá em 97. O segredo aqui é a maneira como eles tratam tudo isso. Munidos de um senso pop emprestado de Rivers Cuomo, em “Young Hearts Spark Fire” eles fazem versos como “Nós costumávamos sonhar / Agora apenas ficar preocupados com a morte” soarem como as palavras mais pueris e divertidas do mundo. (Livio Vilela)
16) “Silvia” [vídeo]
Miike Snow
Embora tenha sido o pop pós-Vampire Weekend de “Animal” que tenha colocado o Miike Snow no radar, é “Silvia” a que melhor demonstra a promessa (ainda não totalmente concretizada) do trio de produtores. A canção começa num martelar de piano, que acompanha tom seguro da voz de Andrew Wyatt. Aos poucos surgem micro-explosões de sintetizadores e distorções, que, de tão precisas, parecem desenhar as formas da tal “Silvia” em sua cabeça. (Livio Vilela)
15) “My Favorite Way” [vídeo]
Black Drawing Chalks
E foram quase 15 edições do Goiânia Noise para que a cidade que passou da “capital do sertanejo” para centro nervoso do rock independente do país ganhasse seu hino. Como um resumo em 3 minutos e meio da história recente do rock goiano (o tal “rock de roqueiro” de MQN, Mechanics, Bang Bang Babies, etc) e conexões (a Recife do Astronautas/AMP, Vamoz! e a São Paulo de Forgotten Boys, Thee Butchers Orquestra, Hats, etc), “My Favorite Way” é o hit definitivo desse último quarto de década na música indie brasileira. Sobre um riff stoner básico, bateria abafada, os Drawing Chalks nos conduzem pela estrada com que eles sonham (e merecem): rocks, mulheres e noitadas. Num momento, o vocalista Victor grita: “let’s get it oooooon”. Só nos cabe obedecer. (Livio Vilela)
14) “Brothersport” [streaming]
Animal Collective
“Brothersport” foi o maior spoiler do ano. Com todo o hype que envolvia o lançamento de “Merriweather Post Pavillion”, pouca gente acreditava que alguma coisa poderia aumentar a pressão ridícula que o disco já tinha sobre si, mas como o negócio do AC é tanto fazer música quanto foder com o cérebro de todo mundo da melhor maneira possível, as expectativas foram inúteis. Em vez de botar mais promessa no disco, parece que a faixa já deu o que muita gente queria: a certeza de que “Merriweather Post Pavilion” seria um dos melhores discos do ano. O mais importante é que ninguém demorou muito pra entrar na onda que é o rave-samba da faixa – o imediatismo da canção não deu muito tempo pra ninguém pensar, e hoje, depois de mais que um ano e todo tipo de reflexão feita sobre a faixa e sobre o disco, é fácil dizer que, como muito bem colocou um amigo do Neon Indian, “this is their fucking Thriller, man!”. (Rafael Abreu)
13) “While You Wait For The Others” [vídeo]
Grizzly Bear
Daniel Rossen descende de duas grandes escolas da música norte-americana: a dos grandes compositores e dos grandes guitarristas. Como um Neil Young hipster ou um J Mascis barroco, ele escreve grandes canções e tem técnica suficiente para fazer sua guitarra revelar todas as nuances das melodias. “While You Wait For The Others” é sua melhor composição até aqui, uma espécie de “Idiot Wind” com a elegância de um Sir Paul McCartney, que só revela sua aspereza em suas distorções. (Livio Vilela)
12) “Ulysses” [vídeo]
Franz Ferdinand
Não importa o quão suave seja a vodka, há sempre um leve amargor no fim do gole. É assim também com o Franz Ferdinand: não importa o quão divertida seja a festa que animam, eles fazem questão de deixar claro o quão efêmero é aquele sentimento. Afiado na sua melhor interpretação, Kapranos desliza pelo salão rindo sarcasticamente de tudo e de todos, à medida em que é tomado pelo desespero da bad vibe fim de festa. No som, consegue finalmente soar como Bowie e seu pós-punk antes do do pós-punk. (Livio Vilela)
11) “Para Quem Me Quer Assim” [MP3]
Romulo Fróes
Trabalho difícil se destacar quando está acompanhada de 32 outras belas canções, certo? Não para “Para Quem Me quer Assim”. Encrustada logo no começo da primeira parte do gigante “No Chão Sem O Chão”, a gema mais brilhante de Romulo Fróes trafega naquela melancolia elegante que o músico já tinha experimentado em algumas faixas de “Cão”, mas sem ser tão hermética como suas irmãs (“Por Um Dia E Nada Mais”, “Você Me Diz”). É como se tudo que essa nova safra de artistas que bebem na fonte da música brasileira da virada dos sessenta para os setenta – tudo relacionado a Orquestra Imperial, a maioria das novas cantoras e o próprio Romulo – tivesse feito até aqui fosse apenas um saboroso rascunho para perfeição dá canção. Coisa seríssima. (Livio Vilela)
10) “Zero” [vídeo]
Yeah Yeah Yeahs
No vídeo de “Zero”, Karen O está vestida com uma jaqueta de couro à la Michael Jackson, com o resto do figurino remetendo à Joan Jett em seus melhores dias. Ela dança por São Franscisco, nos seus melhores rock moves. Apesar de todo simbolismo, nada no vídeo define melhor a faixa (e toda história do Yeah Yeah Yeahs) como o semblante confiante de Karen. Depois de estourar demonstrando sua fragilidade em relação a um ex-namorado (“Maps”) e fazer um disco sobre a crueza das relações criativas (“Show Your Bones”), ela venceu. E “Zero” é o hino que entoa enquanto olha os outros competidores destroçados no campo de batalha. (Livio Vilela)
09) “Tunnelvision” [vídeo]
Here We Go Magic
Mesmo mal interpretando o significado de “tunnelvision”, dá pra se ter uma boa idéia da faixa do “Here We Go Magic”, antes mesmo de ouvi-la. A experiência de ouvir o loop de violão, os sussurros agudos salpicados pela música e a voz filtrada, certeira e delicada de Luke Temple em “Tunnelvision” é a coisa mais parecida a viajar um túnel sonoro que se pode ter. Que o tubo tenha como meta um ponto isolado no infinito só dá mais sentido à composição: Temple criou uma canção teimosa e concentrada, sem desculpas pela repetição em que se baseia. Pensar que tudo isso tenha sido feito num 4-track já é impensável, mas parece que a brincadeira, aqui, é se fascinar com uma coisa que não dá muito pra entender. Um pouquinho como a mágica que tá forma o nome da banda. (Rafael Abreu)
08) “Tudo Que Eu Sempre Sonhei” [MP3]
Pullovers
Levou outros 3 discos e 10 anos para que o Pullovers finalmente se transformasse na formidável banda que é hoje. Esse longo intervalo já fortalece o tom de recomeço proposto pelo álbum, mas é mérito de sua faixa-título deixar claro o que é o Pullovers de hoje é outro. “Tudo Que Eu Semprei Sonhei” zera a história da banda de Luiz Venâncio ao mesmo tempo em constrói todo um novo imaginário pós-Rivers Cuomo, em que Chico Buarque, Cebolinha e futebol convivem perfeitamente. No meio do caminho, reafirma a idéia da “canção tradional brasileira” como gênero, ato que só os mais corajosos (o próprio Chico o fez no seu “Carioca”, com resultados inferiores) tem feito ultimamente. (Livio Vilela)
07) “Cornerstone” [vídeo]
Arctic Monkeys
Desde seu primeiro álbum, um dos ícones juvenis da década, Alex Turner sempre se saiu melhor quando se mostrou mais maduro. Suas melhores canções são mais casa do que balada, mais sobriedade do que diversão. Peça central do seu disco mais bem acabado, “Cornerstone” deveria ser bem menos adolescente do que é. Na verdade, a faixa é basicamente sobre estar tão fragilizado e confuso que você simplesmente não aceita as coisa como ela são. Perdido como um adolescente. No caminho até o fundo poço, ecoa Morrissey no seu “Viva Hate”, se perde em pubs e outras e entrega, mais uma vez, uma grande canção. (Livio Vilela)
06) “Norway” [MP3]
Beach House
Começando com um órgão elétrico e a batida eletrônica estilo Suicide-em-câmera-lenta já conhecidos dos dois primeiros discos deles, dava até pra esperar que “Norway” não fosse uma surpresa. Mas quando entram os “ahs” de Victoria Legrand, dá pra perceber que a história é outra: o andamento é bem acelerado, para uma dupla que é conhecida por fazer uma espécie de cânone de canções de ninar contemporâneas, sem contar com a guitarra dissonante e dedilhada, que parece uma surf music prestes a desmaiar. Impecável, “Norway” tira o Beach House da concha e mostra o quão brilham as pérolas da dupla. (Rafael Abreu)
05) “Triunfo” [vídeo]
Emicida
Há quanto tempo o rap brasileiro não soava tão incrível? Jogando o jogo em suas próprias regras, Emicida equaliza de maneira brilhante música e discurso em “Triunfo”. A letra é inflamada e constrói peça por peça o personagem real que deve dar as cartas do cenário nos próximos anos. Ainda sim é pop como o hip hop brasileiro nunca foi e sem nunca se afastar da contradição que é e ainda vai ser seu principal tema por muito tempo. E se liga: o jogo dele só está começando. (Livio Vilela)
04) “Stillness Is The Move” [vídeo]
Dirty Projectors
Uma batida quase dançante e contínua: pra começar isso já é uma coisa e tanto na discografia do Dirty Projectors. Para a banda – mais conhecida por seus ritmos descontínuos e composição mega-elaborada – fazer uma canção radiofônica com suas vocalistas arriscando uma interpretação à lá divas pop podia ser um baita desastre, mas, nas mãos do maestro Dave Longstreth essa incursão inusitada acabou rendendo um dos grandes êxitos da cena indie no ano. “Stillness is The Move” não só é pop e pronta pra tocar nas rádios, como é, nada mais nada menos que o Dirty Projectors de sempre. Seus delicados acordes de guitarra e arranjos elaborados garantem que a identidade não se perca e, nessa nova roupagem pop, a banda finalmente encaixou aquela última peça no quebra-cabeça que poderia representar a genialidade do grupo, finalmente reconhecido como um big name do indie rock. (Marcelo Adelar)
03) “1901” [vídeo] / “Lisztomania” [vídeo]
Phoenix
Os franceses do Phoenix conseguiram um feito e tanto ao abraçarem uma sonoridade (os ritmos adolescentes dos anos 80) modernizá-la e lhe imprimir um frescor inconfundivel ao longo de sua discografia. “Wolfgang Amadeus Phoenix” é a prova disso, onde cada canção tem cara de single e, em especial nossas escolhidas – “Lisztomania” e ‘1901″ – enlouquecem as cabeleiras de qualquer pista de dança.
A primeira acabou virando uma homenagem involuntária ao falecimento de John hughes: seu clima jovial daria um belo tema de qualquer filme do diretor de Curtindo a Vida Adoidado. E 1901, por sua vez, é aquele tipo de música envenenada, capaz de fazer seus pés se movimentarem involuntariamente, seus dedos batucarem a primeira coisa que aparecer e a cabeça balançar quase sem você perceber. Se o Cut Copy foi a banda feel-good de 2008, o Phoenix pode muito bem ser a de 2009. (Marcelo Adelar)
02) “My Girls” [vídeo]
Animal Collective
Das primeiras versões ao vivo em 2008 ao leak de dezembro uma coisa já era certa: My Girls tinha uma pulsão inerente a qualquer clássico do pop. Sua estrutura lhe dava um quê de “Good Vibrations” do século XXI: as camadas de som vão se envolvendo, crescendo, transcendendo, e Panda Bear, Avey Tare e Geologist, como os Beach Boys faziam tão bem, vão se comunicando em vocais inspiradíssimos e uma harmonia única.
Se for pra dar uma definição, “My Girls” é um trance-neo-pop-tropicalista. As notas se repetem a exaustão como se massageassem um ponto específico do cérebro e levassem a imaginação a locais inexplorados. E, o mais importante, essa é uma canção que define como poucas a tendência do pop contemporâneo: uma veia universal, como que abraçando traços de manifestações musicais do mundo inteiro, comunicam-se com a possibilidade de utilizar da tecnologia para manipular ao máximo cada parte da música e deixá-la o mais próximo possível da perfeição. Já quase um ano depois do lançamento, não é absurdo nenhum dizer que “My Girls” é, de fato, um clássico. (Marcelo Adelar)
01) “Two Weeks” [vídeo]
Grizzly Bear
A maneira mais fácil de entender “Two Weeks” é voltar ao momento em que foi apresentada publicamente pela primeira vez. Em julho de 2008, no palco do maior talk-show dos Estados Unidos, os quatro rapazes do Brooklyn estão com semblantes nervosos, principalmente o vocalista Ed Droste, autor da música. Até ali, a banda tinha experimentado um sucesso circunstancial, amparada na boa recepção de “Yellow House” (um disco incrível, mas que parece “ter acontecido” simplesmente, ao invés de sido feito nota por nota) e do single “Knife”.
À medida em que a música começa, a banda se apresenta desconsertada. Chris Taylor (produtor e baixista) e Bear (baterista) parecem soldados nazistas, duros e desajeitados; Daniel Rossen lembra um mero estudante de piano catando as teclas uma a uma com medo de levar esporro da professora; Droste, por sua vez, fica no vai e volta frente ao microfone, visivelmente confuso.
No entanto, eles não desistem e, ao passo que “Two Weeks” vai descortinando sua beleza, os rostos tomam a expressão de enfretamento, como se estivessem travando uma batalha com inimigos invisíveis, seus instrumentos como armas. Mais claro ainda deixa o tom de voz de Ed, quando reaparece final do segundo refrão. Seguro, imenso, perfeito.
No fim da ponte para o último refrão, já dá para ver no canto da boca de Droste um sorriso quase malicioso, corroborado pela flexão de Daniel na segunda voz. Estava claro que batalha havia sido vencida. Sim, o Grizzly Bear tinha feito uma canção perfeita.
“Two Weeks” é de uma beleza petulante. Ela é e sabe que é, como a menina mais bonita da classe pronta para esnobar qualquer um. Não há nota ou estratagema de produção fora do lugar, mas em vez da característica circunstancial do que eles tinha feito até ali, ela claramente foi construida para ser bela como é. É uma obra prima, que alinha Beach Boys, doo-woop e Phil Spector e reafirma o caráter dinâmico dessas referências. De fato, um novo capítulo na gramática da música pop. (Livio Vilela)
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