por Israel Bumajny
White Blood Cells é um dos melhores discos dos anos 2000. Ponto. Não só por ser um belo disco, mas por sua importância histórica. A lista do Pitchfork dos maiores discos da década o coloca na 12ª posição, na frente de hypes atuais como Animal Collective e Spoon. Já o NME o põe em 19º, coincidentemente atrás do disco seguinte da banda, “Elephant”, mas na frente de bandas como Blur e Rapture.
Ao lado dos Strokes, o White Stripes foi a banda que deu o pontapé inicial no que se convencionou chamar de novo rock. “White Blood Cells” é anterior ao primeiro álbum do Yeah Yeah Yeahs, do Franz Ferdinand, do Killers, do Bloc Party e do Arctic Monkeys. É anterior até mesmo ao “Is this it”, dos Strokes, lançado 2 meses e 22 dias depois. E, diferentemente de todas estas bandas, não é o primeiro álbum do White Stripes, que antes já havia lançado “De Stijl” e o de estreia, homônimo.
O White Stripes pode ser considerado, assim, como o irmão mais velho desta turma toda. Aquele irmão mais velho que curte blues e ouve Led Zeppelin. Como um dos pioneiros deste movimento com bandas tão diferentes entre si, o White Stripes aponta uma característica comum a várias delas: a preocupação com a aparência e o figurino. Se o desleixo com a roupa era a marca do grunge dos 90’s, os anos 2000 fazem questão de se vestir bem. A banda, na verdade uma dupla, Jack e Meg White, só se veste com roupas brancas, vermelhas e pretas. Outra característica que serviu de chamariz foi o mistério por traz do relacionamento dos dois. Durante muito tempo especulou-se se seriam amantes, namorados, irmãos. Hoje se sabe que eram um casal.
Roupa, estilo, mistério, nada disso adiantaria se a música não fosse boa. O White Stripes conheceria sucesso maior com o hit “Seven Nation Army”, do álbum seguinte, “Elephant”, que virou até hino nos estádios europeus (talvez venha daí a escolha do NME), mas foi o “White Blood Cells” que apresentou a banda ao grande público, apresentando um rock ao mesmo tempo simples e elaborado. Simples em comparação a bandas como o Radiohead, mas elaborado em comparação ao Green Day, por exemplo. Enquanto este busca suas influências no punk dos anos 70 (para então diluí-lo), o White Stripes vai mais longe, até o folk e o blues. Simples pela pequena quantidade de músicos e instrumentos (nada de teclados e sintetizadores, apenas guitarra, piano e bateria). Elaborado pelo som apresentado, que preenche o espaço e forma um disco coeso e agradável.
Ironicamente, a música que mais foge ao estilo blues-folk-balada-rock é a minha preferida do disco. “Fell in Love With a Girl” é urgente, é daquelas músicas que te faz sair correndo pra pista, que te faz aumentar o som do rádio, que te faz balançar a cabeça e bater o pé acompanhando o ritmo. Em sua “ramonística” duração de 1h45, ela é como a própria vida: rápida, porém intensa.
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