Quando o Franz Ferdinand estourou, em meados da primeira década dos anos 2000, o rock já estava devidamente “salvo” pelos Strokes. Sem entrar no mérito deste conceito tão batido e subjetivo (não me lembro de ver o rock na mira de uma arma ou se afogando, pedindo para ser salvo), o fato é que, com o terreno preparado pelo rock cru dos Strokes, bandas como o Franz Ferdinand e outras, como o Rapture, puderam ir além, dando vazão às suas experimentações. Se os Strokes foram o punk dos anos 2000 (no sentido de ruptura, não em relação ao som, este muito mais próximo de bandas como o Velvet Underground, anterior ao punk), o Franz Ferdinand foi o pós-punk da década, acrescentando batidas eletrônicas e outros elementos à receita do rock básico produzida pela banda de Julian Casablancas e seus parceiros.
Quem ouve os primeiros 40 segundos do primeiro e homônimo disco dos escoceses do Franz Ferdinand pode se deixar enganar, achando se tratar de mais uma banda lo-fi como tantas outras de Glasgow, cidade natal do grupo. A linha de baixo levada por Robert Hardy acompanhada da batida de bateria de Paul Thomson, que vem a seguir em um crescendo, desfazem qualquer confusão. A guitarra de Nick McCarthy entra na sequência, anunciando o que se ouvirá nos próximos quase 40 minutos. O refrão, entoado por Alex Kapranos e repetido tantas vezes que toma grande parte da música, é um hino de liberdade e ócio: “It’s always better on Holiday/ So much better on Holiday/That’s why we only work when/We need the money” (É sempre melhor no feriado/Muito melhor no feriado/É por isso que nós só trabalhamos quando/Nós precisamos de dinheiro).
E o disco segue assim, uma sucessão de hits, que fizeram (e ainda fazem) sucesso nas pistas de baladas rock. O que dizer do sucesso alcançado por “Take Me Out”? Mas se tivesse que escolher apenas uma música do disco, sem dúvida seria “This Fire”. Começando com um riff preciso, a música começa na manha, mas os versos “now there is a fire in me/a fire that burns” anunciam o refrão explosivo. “This Fire” é o resumo do álbum, é o resumo da banda, é o reflexo de um sentimento de libertação, expresso através da dança, momento em que é permitido às pessoas, mesmo que por pouco tempo, se soltarem e agir livremente. Quem já dançou ao som destas músicas ou as ouviu ao vivo (a banda já veio três vezes ao Brasil e volta em março) sabe do poder que elas têm. É incendiário.
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