No seu habitual exercício de genialidade em resumir artistas com uma frase de efeito, a imprensa chamou os Libertines de “a resposta britânica aos Strokes”. Por mais que isso tenha dado visibilidade aos ingleses, se eles fossem isso, eu com certeza não estaria escrevendo este texto.
Aliás, a minha reação e percepção da música das duas bandas é quase totalmente uma oposta à outra. Em “Is This It”, seu disco de estréia, a música dos Strokes é um bloco sólido, um prédio com base e acabamento perfeitos. As guitarras trocam riffs com precisão clínica, os solos, os refrões e até os gritos entram na hora certa, a produção amarra todas as músicas num todo coeso. Enfim, é um disco perfeito, um disco para se admirar.
“Up The Bracket”, salvo o meu exagero, não é nada disso. As guitarras de Carl Barât e Pete Doherty serpenteiam pra lá e pra cá, como se estivessem competindo por espaço. As letras não se contentam em esperar pelas melodias, e a produção, assinada pelo ex-Clash Mick Jones, em alguns momentos, de propósito ou não, parece que nem está lá. Tudo isso faria a música de uma banda qualquer desmoronar, mas os Libertines são aquela raridade em que os defeitos são as qualidades, o que os coloca, para mim, em outra categoria: um banda para se descobrir em cada audição. Essa descoberta, ao contrário da banda, nunca termina, e é isso que me fez querer falar desse disco 6 ou 7 anos depois que escutei pela primeira vez.
Em vez de serem lembrados como “a resposta britânica aos Strokes”, acho que um trecho de “Time for Heroes” resume melhor do que ninguém o que é a música que esses quatro caras criaram:
“And we’ll die in the class we were born
But that’s a class of our own my love
A class of our own my love”
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