por Rafael Abreu
Eu não sou muito chegado em tietagem. Tem pouca gente que me faria agir como um imbecil, se eu tivesse perto.
Mas o negócio é o seguinte: se eu me encontrasse na mesma sala que o Panda Bear, o Avey Tare, o Geologist e o Deakin, todos os limites teriam ficado da porta pra fora, e eu provavelmente agiria como uma daquelas fãs enlouquecidas dos Beatles que a gente vê na TV e acha meio engraçadas. Aliás, não. Eu não gritaria. Eu só ficaria um pouco perturbado e tal.
O “Merriweather Post Pavillion” é importante pra minha década porque simplesmente é o “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” de um dos meus Beatles (ponto) do século XXI. A intenção não é tratá-los como alguma referência sonora explícita, – apesar do fato de que todo mundo que faz música e se preza tem alguma admiração pelo Fab Four – e sim de explicar o tamanho que eles têm. Na minha cabeça, pelo menos. Na mente delirante do fã que vos escreve, eles são tão famosos que “Brothersport” toca em todas as rádios do mundo pelo menos uma vez por dia e os shows deles são superproduções tão lotadas quanto a última turnê da Madonna ou do U2. Tudo bem que isso não é verdade, mas pouco importa. Daqui a não sei quantos anos todo mundo vai ouvir pra trás e descobrir uma banda que só entrou na Bilboard com esse álbum e vai descobrir o catálogo incrível que eles vão ter deixado (e já deixaram) pro deleite de quem sabe o que é bom.
Outra historinha: há uns 3 meses, meu iPod resolveu fazer um mashup com todas as capas dos álbuns. Até aí, nada de significante pra esse texto, mas parece que o bicho pensou, antes de misturar as imagens. Muitas das capas que aparecem pras músicas erradas têm a ver com a própria banda que as toca. Daí que quando eu ouço, digamos, o “Love is Overtaking Me”, do Arthur Russell, a capa que aparece é a do “No Way Down EP”, do Air France, sendo que a imagem de ambos é meio idílica, grama em baixo, céu em cima. O “C’est Chic”, do Chic, aparece com uma foto do Justice, sendo que ambos (pelo menos segundo os últimos, que declararam que “Cross” era uma “opera-disco”) fazem disco music, em algum sentido da palavra. E por aí vai.
Quando eu ouço o MPP, aparece a capa de “Anniemal”, primeiro disco da Annie. O que faz todo o sentido do mundo, pelo menos pra mim. Se alguém ouvisse só o “Here Comes the Indian” e lesse esse texto, acharia estranhíssimo que eu visse neles os Beatles da década, mas a verdade é que a carreira do AC é a história de um grupo que faz música bem pirada se aproximando de um som mais acessível. As texturas e as composições sempre foram desafiadoras, mas a partir de “Sung Tongs”, dava pra ver que os caras começavam a fazer pequenas faixas que, se não eram efetivamente pop, tinham um sensibilidade pop. O MPP é o disco em que tudo isso culmina, o ponto em que a banda conseguiu unir experimentação e acessibilidade sem se vender, seja pelo rave samba de “Brothersport”, seja pela delícia que é “My Girls”. Tá que eles nunca fizeram um hit da categoria de um “Chewing Gum” da vida, mas, para todos os efeitos, o MPP é o mais perto que se tem de um “Anniemal” do AC.
Enfim: o MPP é o disco da década que me fez me comparar a fãs enlouquecidas dos Beatles sem nenhuma vergonha. Os caras merecem.
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