Uma vez eu ouvi em algum lugar que você não escolhe as coisas de que gosta mais, são elas que acabam escolhendo você. Certamente isso é verdade para mim com esse “Chutes Too Narrow”. Isso porque os Shins são uma banda muito, muito fácil de subestimar.
Nos idos de 2003 ou 2004, depois da indicação empolgada de um amigo, acabei escutando os dois primeiros álbuns da banda. Não é nem que eu tenha ficado decepcionado porque eles não tinham mudado a minha vida, a questão foi que eu nem sequer achei nada demais no som dos caras. Enfim, depois dessa nota pessoal, o leitor deve estar achando que a música dos Shins ou é algo pasteurizado e comum ou não tem nenhum apelo imediato. Nada disso.
É muito fácil subestimar uma banda tão classicista como essa, que bebe da fonte de sons muito familiares dos anos sessenta e setenta. James Mercer compõe as canções com um esmero e atenção aos detalhes como poucos hoje em dia. Essas canções, porém, nunca parecem artificiais e, apesar de terem melodias memoráveis ao extremo, estão longe de serem simples. Mercer é um mestre do contraste: uma música que parece triste esconde uma letra vingativa, outra bem para cima e alegre sempre tem uma raiva escondida em algum lugar. Mas nada disso importaria se a música não se sustentasse por si própria. Todas as dez faixas de “Chutes Too Narrow” têm os arranjos mais assobiáveis que você pode querer de uma banda pop, e, uma vez que você se acostume com a falta ocasional daquela estrutura típica de estrofe-refrão-estrofe, cada canção vai se revelando nos seus vários detalhes.
Apesar de não serem uma das bandas mais produtivas da última década, – apenas três álbuns – cada trabalho que eles nos apresentam é especial e diferente, variando em climas e acessibilidade. “Chutes Too Narrow” é o momento mais econômico e acessível da banda, mas de algum modo o mais complexo e brilhante até aqui. Se o leitor escolher dar a atenção que esse disco merece, com certeza vai perceber que poucas bandas recompensam esse investimento como os Shins.
Deixe um comentário