Aqueles Queridos Anos 2000: “In Rainbows”, Radiohead

por Matheus Vinhal

Era 2007, o fim do ano se aproximava e o Radiohead começou a postar no seu Dead Air Space algumas imagens estranhas. Foram dez dias de oito imagens que lembravam muito a arte dos discos do grupo, com pouco ou nada de texto para acompanhá-las. Naquele tempo, o Radiohead era um grupo envolto em muito mais mistério do que é hoje. Foi quando, no dia 01/10, o guitarrista Jonny Greenwood postou uma minúscula nota que dizia: “Bem, o novo álbum está acabado, e vai sair em dez dias“. No primeiro momento, muita gente não entendeu. Afinal, o Radiohead ia mesmo lançar um disco, nos próximos dez dias, sem nenhuma gravadora por trás? E então veio “In Rainbows” e seu site. O resto, como se diz, é história. E o leitor a conhece bem, muito provavelmente.

In Rainbows é praticamente um disco de refundação do Radiohead. Antes de tudo porque o grupo quase se separou no processo de produção do álbum – e isso veio à tona recentemente, em entrevistas do produtor Nigel Godrich e do guitarrista Ed O’Brien. Finalizar In Rainbows e em especial lançá-lo da maneira como foi lançado foi uma renovação para a banda. Pela importância que já tinha um grupo como o Radiohead, só por estes fatos In Rainbows já poderia ser considerado um dos discos mais significativos da década. Mas ainda temos um disco que é estupendo musicalmente e que também é responsável por ampliar a discussão a respeito dos rumos que a produção e distribuição musical podem seguir. Não é pouco.
Além disso, após o lançamento do disco aos poucos aquela aura de mistério que envolvia o Radiohead foi se dissipando. E de repente você via Thom Yorke, todo serelepe, participando de programas no Reino Unido, fazendo as pessoas rirem e rindo de um jeito que ninguém esperaria do vocalista do Radiohead. Alguma coisa havia mudado. Pode não ter ficado tão claro àquela epoca, mas essa mudança se deve ao fato de que, em In Rainbows, o Radiohead, além de mesclar o principal de cada álbum anterior, conseguiu mostrar sinceramente sua música como nunca antes havia feito. Não por acaso é o disco mais orgânico do grupo, no qual percebemos uma sensualidade que, se não inédita, nunca havia encontrado tanta vazão na música da banda. Essa sinceridade alcançada pelo Radiohead é, eu diria, ao mesmo tempo causa e consequência dessa repaginada que o grupo sofreu depois do seu sétimo álbum. Quem conhece o documentário pós-Ok Computer “Meeting People is Easy” e vê as mais recentes entrevistas do Radiohead pode verificar que se trata basicamente de outra banda.
In Rainbows de certa forma encerra portanto uma mudança na relação do Radiohead com o público e consigo mesmo que começara dez anos antes, em Ok Computer, com o início de um enorme reconhecimento de audiência e crítica e ao mesmo tempo desgaste do grupo. Um processo que ainda passa por Kid A/Amnesiac, quando o grupo toma um caminho quase radical de experimentalismo e reclusão que dividiu parte de seu público. In Rainbows é a feliz reconcialiação do Radiohead consigo, com o seu público em toda a sua totalidade e, ainda, a ampliação deste.
É disco mais importante da última década.

Posted

in

by

Tags:

Comments

2 respostas para “Aqueles Queridos Anos 2000: “In Rainbows”, Radiohead”.

  1. Avatar de Thiago Dantas

    Belo texto. Concordo bem com os pontos apresentados. Como fã, posso dizer que depois do The Bends, esse é meu álbum preferido deles. \o/

  2. Avatar de Helder Dutra
    Helder Dutra

    Rapaz, cravar como o “mais importante” da década é algo que me parece com as observações sobre OK Computer ná época. Se cravarmos então Ok Cumputer e In Rainbows o Radiohead fez os discos mais importantes das últimas duas décadas?

    OMG!

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: