“Oracular Spectacular” é o tipo de álbum que, mais cedo ou mais tarde, se é obrigado a ouvir, uma espécie de “Tropa de Elite” ou “Avatar” (em menor escala, claro) musical. Numa época em que esse tipo de fenômeno (a antiga “hot new thing”) é facilmente produzido, houve uma época em que TODO MUNDO – ou ao menos todo mundo que gostasse mesmo de música – tinha que ter uma opinião sobre o álbum que acabou nomeado o melhor de 2008 pela NME (que alterna entre levantar besteiras e achados) e o décimo oitavo melhor da década pela RS. O que fazia sentido: hype nenhuma deixa de ter seu motivo, por mais aleatório ou insuficiente que seja. Nesses casos, a questão é geralmente de faísca pouca pra toda uma multidão ficar em polvorosa. E o que acabou incendiando o pessoal do lado da mídia e do ouvinte foram dois ótimos singles: “Time to Pretend” era (e é) boa o suficiente pra que qualquer um com um ouvido sinta no mínimo simpatia por ela e “Kids” tem na piração psicodélica sintética e no refrão grudento material que garante à faixa tanto carisma quanto credibilidade pra (algumas) pistas de dança. E até aí tudo muito bom, tudo muito bem. Mas e o álbum? E as 10 faixas que constituem o álbum que é “OS”?
Não são muito boas. Pelo menos não o suficiente pra figurar numa lista de melhores do ano e definitivamente não boas o suficiente pra fazer um conjunto digno de uma lista de melhores da década. Claro que o début teve seus momentos (o jingado à Prince de “Electric Feel” e o refrão doce de “The Youth” estão lá), mas a verdade é que “OS” acaba sendo simplesmente ok, na melhor das hipóteses, e basicamente esquecível, na pior delas. E aceitar esse fato é o primeiro passo pra entender que “Congratulations”, segundo álbum do grupo, não é uma decepção.
“Flash Delirium”, primeiro gostinho do álbum a ser liberado, falha como convite, mas a obrigação de ouvir o lançamento acaba se repetindo. A estrutura mutante da faixa até acarretou um ponto de interrogação no que diz respeito ao que poderia vir com o resto das canções, mas em vez de uma boa dose de improviso, as constantes mudanças de sonoridade em seus 4 minutos acabam parecendo simples falta de foco. Partindo de uma batida estilo Suicide e uma faceta ligeiramente gutural da voz de Andrew Van Wyngarden, a dupla mal termina de prometer e já decepciona: em pouco tempo vão empilhando curvas tortas, crescendos que não levam a lugar nenhum e uma seção de coro sing-a-long que é puro capricho narcisista.
“Flash Delirium” como parte acaba representando o álbum como um todo – não é a toa que a dupla tenha declarado que é um trabalho pra ser ouvido inteiro, não por pedaços, e que não será lançado nenhum single. Há quase zero singles em “Congratulations” (as exceções são a simpática Someone’s Missing, com uma vibe Jackson 5 e “I Found a Whistle”, baladinha espace-rock cheia de ecos), tanto no sentido de uma faixa com apelo comercial quanto no sentido de algo que se destaque entre os movimentos que compõem o disco. Mas seu maior defeito não é essa inconstância, apesar de representar uma boa parte do problema. “Happiness Is a Warm Gun” tem mais de quarenta anos e “Skeletal Lamping”, disco do Of Montreal que trabalha com sucesso essa dinâmica esquizofrênica do pop psicodélico, foi lançado no mesmo ano em que “OS”. Não há novidade no modus operandi dos caras. O que prejudica bastante, no entanto, é a falta de ganchos e o caráter errático que se observa nas melodias de “Flash Delirium”, “Song For Dan Treacy” (The Kinks + dissonância + carisma destruído por órgãos excentricamente funerários) e “Brian Eno” (que jamais será uma homenagem ao cara).
Quando defendem esse álbum, o argumento é que ele é mais experimental, supostamente maduro, que demora pra ser absorvido, que o pessoal que gostou da verve mais pop do début dos caras talvez tenha algum problema com esse segundo trabalho. E, no entanto, mesmo após ouvir o álbum inteiro incansavelmente dá pra dizer que as audições posteriores são tão impacientes quanto a primeira. E o problema não é simplesmente a falta de ganchos. Essa resenha não é uma rejeição a um tipo de música mais cerebral ou estranha (beijo pro “Kid A”) . O problema é que Congratulations não funciona nem como um álbum pop (sem “Kids” ou “Time to Pretend”, aqui), nem como o chamado álbum maduro que dizem ser. Funciona mais mesmo como uma brincadeira um pouco infantil até, sem muita graça.
[“Congratulations”, MGMT. 9 faixas com produção da própria banda e Peter Kember. Disponível para audição aqui e lançado em abril de 2010 pela Sony/Columbia.]
[rating: 2.5/5]
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