Zooey Deschanel pode ser uma gracinha e tudo o mais, porém, antes de mais nada, vamos combinar uma coisa: a moça sabe cantar. “Sim, e daí?”, você me pergunta. Quando se fala em atores e atrizes que resolvem virar músicos, isso já se torna uma bela vantagem – é só se lembrar do Bruce Willis, Lindsay Lohan e, recentemente, Scarlett Johansson. E quando eu digo saber cantar, não estou falando necessariamente em não desafinar ou apenas ter um timbre interessante, eu estou falando de interpretar uma canção (O.K., não vou dar uma de jurado do “American Idol” aqui).
Outro aspecto que mostra o quão incomum é essa parceria entre Deschanel e o compositor M. Ward é o fato de todas as músicas originais serem assinadas por ela. Por mais que M. Ward seja essencial ao projeto, ele funciona mais como diretor musical para os talentos de Zooey do que como um mentor aparando as arestas de alguém sem qualquer direção.
Entretanto, mesmo com todas essas qualidades, quem escutou o primeiro disco da dupla pode ter achado que Zooey estava longe de ser perfeita. Em “Volume One”, a cantora tenta cobrir um espectro musical maior que sua capacidade, passando do pop sessentista competente para um country sem sal ou um jazz vocal desajeitado. A boa notícia é que aqui ela evita essas fraquezas, se concentrando no R&B clássico dos girl groups e nas canções simples de voz e…uquelele (aquele cavaquinho havaiano).
Agora, a melhor notícia mesmo é que o crescimento de Zooey como compositora é evidente em “Volume Two”. Apesar do disco anterior já mostrar algumas canções acima da média, como “Change Is Hard”, “Black Hole” e “Why Do You Let Me Stay Here?”, as onze músicas originais deste trabalho são muito mais consistentes. Zooey Deschanel não erra a mão em nenhuma canção, mas ela se supera logo na faixa de abertura, “Thieves”. Outros destaques são “Home”, “Over It Over Again” e “If You Can’t Sleep”. Mas o que representa melhor este álbum é o primeiro single, “In The Sun”, onde a dupla realmente começa a dar sinais de tecer uma sonoridade própria. A escolha das covers também foi inteligente: em vez de dar a cara à tapa com versões dos Beatles e outras músicas muito famosas, as interpretações ganham nossa simpatia justamente por não remeterem à memória, principalmente a excelente “Ridin’ in My Car”.
E onde entra a outra metade da dupla nessa história? M. Ward combina que nem arroz e feijão com as influências musicais de Deschanel, pois ele é um mestre em pegar estilos musicais ditos datados e fazê-los soarem como novos – e os discos solo dele estão mais do que recomendados, claro. A sua produção em “Volume Two” está mais encorpada do que no primeiro álbum, e ela vai desde uma “parede de som” à la Phil Spector em “Thieves” até um clima intimista em “Brand New Shoes”, nunca exagerando e sempre servindo a cada canção.
She & Him é um projeto que se inspira nas qualidades que geralmente faziam os artistas dos anos 60 e 70 ficarem conhecidos: a busca daquela melodia pop perfeita e a vontade de colocar algo novo e único para o público. Não importa se aqui eles conseguem um sucesso relativo nessa empreitada, mas já é de se admirar que eles venham evoluindo, assim, sem alarde, sem precisar se apoiar em sensacionalismo, em imagens ou na fama de Zooey, apenas na música.
[“Volume Two”, She & Him. 13 faixas com produção de M. Ward. Lançado em março de 2010 pela Merge Records.]
[rating: 3.5/5]
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