Em maio do ano passado, Nathan Williams, o rapaz por detrás do Wavves, fora convidado a fazer sua primeira grande turnê europeia (cerca de 30 apresentações), na esteira do seu barulhento e elogiado segundo disco, Wavvves (2009). Foi quando, ainda no primeiro show, aconteceu isto. LOCO DE DORGAS, Nathan não conseguia articular bem uma só nota, ficou babando em cima do palco e ainda discutiu com seu baterista, quando este se cansou de ser vaiado e o deixou sozinho no palco. Bem, o resultado desse incidente foi que toda aquela turnê europeia foi cancelada e o Wavves voltou para sua casa na California bem mais cedo do que imaginava. Talvez esse incidente na carreira de Nathan Williams não tenha sido central na mudança de som no novo disco do Wavves, “King Of The Beach”, mas o rapaz certamente perdeu crédito com quem acreditava no seu trabalho.
E eis que surge “King Of The Beach” e, pois é, o cara dá a sua volta por cima. Ao contrário do ultranoise, do lo-fi de quarto, da sonoridade e produção completamente estouradas de Wavvves, em “King Of The Beach”, acredite, é possível reconhecermos até mesmo a voz de Nathan Williams. E, por incrível que pareça, ela é ótima. Enquanto em Wavvves era necessário duas ou três audições para percebermos a força pop de cada música, escondida atrás de uma muralha de barulho, em “King Of The Beach” tudo é mais límpido e a identificação com o disco é instantânea. Os ouvidos e as caixas de som agradecem.
É de se impressionar que, pouco tempo depois de fazer um bom disco como Wavvves, Nathan Williams nos entregue um trabalho ainda melhor e tão diferente do anterior. Mas o que mais impressiona mesmo é a capacidade do disco de elencar diferentes gêneros, um seguido do outro, e ainda assim de ser um disco muito conciso. Em “King Of The Beach” há citações à surf music (“King Of The Beach” e “Idiot”), ao grunge (“Linus Spacehead” e “Take on The World”), ao lo-fi (“Super Soaker”), a essa onda meio psicodélica da década passada, puxada por Animal Collective e Atlas Sound (“When Will Come”, “Baseball Cards” e “Mickey Mouse”), ao pop sessentista (“Baby Say Goodbye”, a melhor do disco, que fecha o disco à la Animal Collective) e até mesmo ao punk rock pasteurizado e ao new metal (“Post Acid”, não por acaso o primeiro single).
Mas o que aconteceu para que o som do Wavves mudasse tão drasticamente, foi só o cara enlouquecer num show em Barcelona? Na verdade, não. Em Wavvves, Nathan Williams era o único integrante do seu “projeto” e gravava tudo no seu quarto, no laptop. Em King of the Beach, o Wavves é um trio (com Billy Hayes – autor de “Baby Say Goodbye” – e Stephen Pope, a cozinha do Jay Reatard) com um álbum gravado em estúdio com Dennis Herring (que já tinha produzido gente como Counting Crows; repare). O que não fica muito claro é a partir de quando essa nova sonoridade foi sendo criada e se tem alguma relação com o incidente no Primavera Sound ’09.
Mas nada disso interessa muito, porque o que o Wavves entrega é um dos melhores discos do ano, que surpreende muito. Agora, conseguindo ouvir claramente cada melodia, cada ótimo backing-vocal e cada boa letra pontuando as guitarras pesadas de grande parte das músicas, dá para dizer sem muito medo que Nathan Williams é bem mais que um rapaz tirando um som no seu quarto. King of the Beach coloca o Wavves definitivamente no topo da (boa) cena de San Diego, que este ano já nos tinha dado o ótimo debut do Soft Pack. Vale muito a segunda chance.
[“King of the Beach”, Wavves. 12 faixas produzidas por Dennis Herring. Lançado virtualmente em 01 de junho e fisicamente no próximo 03 de agosto, pela Fat Possum Records]
[Rating: 4,5/5]
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