Embora não tenha sido tão corajoso como se esperava, o último álbum do Sigur Rós, principalmente o single “Gobbledigook”, sinalizou uma luz no fim do túnel para uma banda que parecia já distante dos seus tempos mais criativos. “Go Do” resume com pompa e circunstância as mudanças propostas pelo islandês em seu primeiro disco solo, da escolha do inglês como “língua oficial” aos vibrantes arranjos de Nico Muhly, num emaranhado de sons que soa como uma grandiosa montagem de uma musical da Disney (Rei Leão, talvez?) dirigido pelo Animal Collective. (Livio Vilela)
Tame Impala é quase por unanimidade a grande revelação de 2010. Num ano com bastante psicodelia, esses australianos conseguiram se destacar acima de todos os outros grupos. “Alter Ego” é o melhor exemplo disso. É uma ótima coincidência que no ano em que lamentamos os 30 anos da morte de John Lennon apareça um grupo que se assemelhe tanto ao que, pelo menos na minha cabeça, Lennon faria se fosse em 2010 quem ele foi em 1966 ou 1967. Ouve aí e diz se tô errado. (Matheus Vinhal)
Mesmo com hits GIGANTES como “Umbrella”, “Single Ladies (Put A Ring On It)” e “Baby” na sua conta, Terius Youngdell Nash aka The-Dream continua como uma eminência parda do R&B e pop americanos. Se ele ainda não recebeu os louros por suas produções e composições como aconteceu com Timbaland ou Dr. Luke, é mais cruel ainda ver que a sua carreira solo permanece à margem das paradas. “Yamaha” não fez sucesso, mas é um dos momentos mais divertidos do pop americano desse ano. Ouve-se Prince em cada batida e num plano geral é como se a música fosse um bom lembrete que ainda é possível ter classe num cenário em processo de davidguettização. (Livio Vilela)
“It’s so seeexxxxyyyy to be livin’ in Americaaaaa”, refrão chiclete encrustado no meio de “Living In America”, é um daqueles momentos em que imbecilidade genuína é transformada em puro pop perfeito. Você pode correr para longe do fone ou tentar arriscar um ‘stop’, mas é impossível fugir de “Living In America” e seu refrão. Já vi algumas pessoas taxando o Dom como MGMT de 2010/11, mas, ei, quando foi mesmo que o MGMT pareceu tão divertido? (Livio Vilela)
Nunca aceitei bem essa fase mais solar de Antony iniciada no EP “Another World”. Não me entenda mal, que bom que ele está mais feliz, só que o que realmente chamou atenção para ele foi o desespero presente em cada nota que saía de sua boca. Se a discografia de Antony parece já ter vivido tempos mais inspirados (“Swanlights” é corajoso, mas falha quase o tempo todo), sua boa rotatividade em participações especiais parece manter sua carreira aquecida o suficiente para ainda esperarmos bastante dele. Em “Returnal”, Antony derrama sua voz sobre as notas tristes do piano de Daniel Lopatin, transformando o que inicialmente parecia apenas uma interessante colagens de sintetizadores e distorções (The Knife reprocessado, basicamente) em uma sombria balada sobre rejeição e redenção. (Livio Vilela)
Oneohtrix Point Never – Returnal (Feat. Antony)
Você pode odiar o cabelo dele, as meninas berrando seu nome, os TTs tipo #Is2Bieber e o fato de ser dele e não da sua banda indie favorita o vídeo mais visto no Youtube EM TODOS OS TEMPOS. Você não tem mais 12 anos, então há motivos suficientes para odiar Justin Bieber, eu até entendo. Mas vale o conselho: você está sendo bem babaca deixando “Baby” passar despercebida. Num tempo em que Lady Gaga recria aquelas polêmiczzzz que a Madonna curtia 20 anos atrás e que a Ke$ha ganha a vida parecendo bêbada e drogada, “Baby” é agradavelmente conservadora. Não me entenda mal, eu realmente não importo (e até gosto, se bem feito) com gente que faz sucesso baseando-se do abuso e na contravenção vendável, mas há algo simplista que uns tais de Beatles falaram tempos atrás que eu não consigo esquecer. Híbrido de “I Want You Back” com “I Want It That Way”, “Baby” é amor e é tudo que você precisa: uma composição/produção perfeita de The-Dream, Tricky Stewart e Chrstina Millan e um refrão tão chiclete e cantado com tanto afinco, que por um segundo dá até para acreditar que Justin está realmente sentindo aquilo tudo. O mundo pode até estragar Justin Bieber, mas “Baby”, aceite você ou não, é um clássico. (Livio Vilela)
Justin Bieber – Baby (Feat. Ludacris)
Nessa mesma época do ano passado, Luke Temple estava com “Tunnelvision” do seu Here we Go Magic no Top 10 de melhores músicas de 2009. Aquela música era uma das coisas mais estranhas e incríveis do ano, uma espécie de kraut-folk, metade Animal Collective de “Sung Tongs”, metade Brian Eno de “Another Green World”. “Collector”, por sua vez, mostra uma banda completamente diferente, ainda que a essência de “Tunnelvision” esteja por aqui. O folk e as dinâmica krautrock funcionam aqui mais como elementos do que como um fim em si, deixando espaço para que a delirante cama de sintetizadores e as guitarras new wave cravem definitivamente o nome de Luke Temple no Hall da Fama do indie pop dessa época. (Livio Vilela)
O convencional seria apontar “Deadbeat Summer” do Neon Indian ou “Feel It All Around” do Washed Out como a melhor faixa do que se convencionou chamar como chillwave, mas eu escolheria “Talamak” sem medo de errar. Se suas “concorrentes” são bons experimentos com ambiência e nostalgia, “Talamak” é uma canção pop por inteiro, metade Beach Boys, metade New Order (“Thieves Like Us”). Tal qual um tratado gramatical, “Talamak” define em meros 201 segundos como deve ser o bedroom pop daqui para frente. (Livio Vilela)
FlyLo foi a tantos e tão diferentes lugares em seu “Cosmogramma”, que “Galaxy In Janaki”, última faixa do disco, funciona tanto como um resumo da viagem (é uma das poucas músicas que se bastam no trabalho) como uma canção de boas vindas. Aqui, ele parece querer abraçar o universo em 2 minutos, ordenando o caos a sua maneira, perdido entre estrelas, linhas de baixo, free jazz, arranjos cordas e supercordas. (Livio Vilela)
Flying Lotus – Galaxy In Janaki
Se você acha que “Dancing On My Own” tocou demais em 2010, prepare-se: essa é daquelas que ainda vai tocar por muitos e muitos anos. Numa comparação rápida, “Dancing On My Own” em tudo para ser a “Time After Time” da Robyn, um daqueles clássicos instantâneos que não só garantem um bom sucesso quando são lançadas, mas que depois viram item de inconsciente coletivo. Não estranhe se em pouco tempo essa música aparecer no rádio quando você menos espera, embalar de festas de formatura a bailes da saudade, sonorizar comédias românticas com a Meg Ryan da vez e ganhar diversas e provavelmente piores versões nas vozes de outros artistas. Robyn lançou três discos em 2010, mas poderia bem ter lançado só essa música. O resultado, as próximas gerações vão nos contar, seria o mesmo. (Livio Vilela)
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