As 50 Melhores Músicas Internacionais de 2010: 20-11

Há um ano, o futuro parecia um sonho para o Yeasayer: eles estavam prestes a lançar um dos discos mais esperados do ano (o primeiro com distribuição de uma grande gravadora), o primeiro single já era um hit indie e as expectativas davam conta que eles podiam ser “o MGMT” e “o Animal Collective” de 2010 ao mesmo tempo. Bastaram as primeiras audições do então vazado “Odd Blood”, seguidas das primeiras resenhas, para perceber que a história seria outra. Se 2010 foi um ótimo ano para banda, mesmo com o desapontamento do álbum, tudo se deve a “O.N.E.”. A faixa é quase um alien dentro do álbum: é pop direto, pegajoso, para cima, ponto pra pista de dança e ainda sim é uma música com o DNA do grupo, muito longe das pirações e dos excessos do resto do álbum. Foi ela que nos manteve fiéis àquela expectativa, nos lembrando que o Yeasayer ainda valia a pena (e ainda vale, o show do Planeta Terra foi bem interessante), nos fazendo revisitar “Odd Blood” de tempos em tempos e esperando alto para futuro da banda. Uma única música. (Livio Vilela)

Yeasayer – O.N.E.

“Giving Up the Gun” é a aproximação mais clara e forte do Vampire Weekend com a música pop de rádio. Com uma batida marcante e começando logo pelo refrão, a música te pega de um jeito que já após a primeira estrofe e à primeira volta do refrão você já está lá cantarolando. No próximo, cantando. Além disso, durante as estrofes você escuta a precisão e o apuro estético que já é marca do grupo. (Matheus Vinhal)

Vampire Weekend – Giving Up The Gun

Dizer que o The National é uma banda “triste” ou “melancólica” é a mesma coisa que usar os dois adjetivos para descrever o Joy Division, por exemplo. Foge do ponto. O The National é sim uma banda “triste” e “melancólica”, mas são tantos tons de cinza nessa pintura que se ater a um ou outro é simplificar demais. “Afraid Of Everyone”, por exemplo, não é simples. É desespero e resignação culpada, um plano de fuga do nosso próprio policiamento. A voz Matt Beringher, sempre sombria e claustrofóbica, aqui aparece quase aos pedaços, a medida em que a instrumentação dos irmãos Dessner, sempre rígida e épica, se perde em uma psicodelia ruidosa e esfumaçada. (Livio Vilela)

The National – Afraid Of Everyone

“King Of The Beach”, tanto o disco como, principalmente, a música, é uma espécie de “turning point” na carreira do Wavves. A música em si mantém diversos aspectos dos discos anteriores do Wavves, como a voz quase teenager, o peso todo condensado na guitarra e em especial a temática California chapada-ensolarada que faz Nathan Williams gritar em dor e êxtase (ecstasy?) logo no início da faixa: “Let the sun burn my eyes / let it burn my back!”. Ao mesmo tempo, “King Of The Beach” também inicia o Wavves numa nova fase, com a produção menos lo-fi, guitarra e voz mais limpa, e comprova aquela impressão antiga de que o talento de Nathan Williams vai além do barulho. (Matheus Vinhal)

Wavves – King Of The Beach

De todas as coisas improváveis que o jovem produtor inglês James Blake fez durante o ano, sem dúvidas a mais chocante foi a mais simples delas: ele cantou. Não só cantou, mas, quando abriu a boca, ele revelou ter um dos timbres mais bonitos e instigantes de todos cantores masculinos da história recente (até Antony, pelo menos). A escolha da canção foi não menos inusitada, um quase b-side de Feist, que aqui é domado pela brilhante noção de espacialidade de James e seu impressionante registro vocal, um misto de soul, de Chet Baker, controlado nota a nota. Gênio? (Livio Vilela)

James Blake – Limit To Your Love

“Excuses” abre “Big Echo”, segundo disco do The Morning Benders, cheio de uma ambiência que dura mais de meio minuto. Só depois disso é que diz a que veio. E vem como uma das mais belas canções compostas em 2010. Com percussão e violões marcantes e uma produção carregadíssima (fruto da escolha de Chris Taylor, do Grizzly Bear, como produtor), em “Excuses” a voz de Chris Chu soa ainda mais frágil do que é. Ao contrário do que parece, é exatamente o resultado buscado, tanto pela banda quanto por seu público. Em outras palavras, “Excuses” se tornou por excelência a canção indie pop de 2010. (Matheus Vinhal)

The Morning Benders – Excuses

O workaholic mais querido da música alternativa pode ser Jack White, mas certamente Bradford Cox é, dos prolíficos, o músico que mais vem acertando nos últimos anos, uma espécie de midas do indie rock. “Helicopter” é só a continuação de uma série de boas composições que Cox vem encadeando desde 2006, alternando Deerhunter e seu projeto solo, o Atlas Sound. Ainda assim, “Helicopter” não é exatamente mais do mesmo e surpreendeu a grande dos ouvintes, continuando com a estética característica do Deerhunter e adicionando sonoridades novas ao som do grupo, como a quase-batida eletrônica que abre a música. Impecável, como sempre. (Matheus Vinhal)

Deerhunter – Helicopter

Joanna Newsom praticamente pediu para ser encarada como uma artista “difícil”. Como se não bastasse a compositora se valer principalmente da harpa e de ter uma voz fanha curiosamente linda, “Have One On Me”, seu último disco, é triplo. Para quem se aventurou ao longo das dezenas de faixas do álbum, “Good Intentions Paving Company” é certamente a mais direta e, talvez – mas só talvez porque o disco é cheio de uma beleza pulverizada -, a música mais bonita do disco. Destaque especial aos backing vocals, feitos também por Joanna. Tirando as músicas mais “blockbusters”, como “Fuck You”, “Tiger” e “POWER”, “Good Intentions Paving Company” é minha preferida de 2010. (Matheus Vinhal)

Joanna Newsom – Good Intentions Paving Company

“Odessa” me acertou de certo na cabeça. Eu fiquei tão chocado quando eu ouvi a música pela primeira vez que eu parei e fiquei ouvindo só ela por quase uma hora. Quem já era fã dos discos anteriores do Dan Snaith, sabia que ele podia transitar por estilos completamente diferentes de um álbum pra outro, mas essa passagem do pop sessentista do álbum anterior para esse synth-pop meio dark, meio prog (sem perder a sensação que a faixa poderia ter sido gravada num home-studio), bizarramente dançante, é um daqueles momento em que a carreira de um artista se divide em dois. 2010 foi um ano incrível, sem dúvidas, mas foram poucos os momentos em que a música soou tão vital e tão sem barreiras quanto em “Odessa”. (Livio Vilela)

Caribou – Odessa

“Silver Soul” funciona como um sonho: nos 5 segundos iniciais, o que se ouve são ruídos da natureza e o balançar de alguma água. E de repente entra a música de fato, como que dizendo também ser parte de tudo aquilo. Como quase todas as músicas de “Teen Dream”, “Silver Soul” preenche os espaços mais recônditos: desde o teclado quase imperceptível, passando pelas guitarras oníricas de Alex Scally, até a inacreditável voz de Victoria Legrand – quase uma deusa – “Silver Soul” vai crescendo naturalmente até atingir uma espécie de épico sereníssimo. (Matheus Vinhal)

Beach House – Silver Soul