
Amy veio, subiu no palco, cantou, e cantou muito. Uma voz única, incontestável. Mas faltou alguma coisa…
A incredulidade de ver Amy ao vivo foi a mesma de se dar conta da curta duração do show, uma hora, talvez um pouquinho mais. Se ficou aquele sentimento de que a conta não fechou, vale pensar um pouco nas expectativas sobre Amy e no que de fato ela pode oferecer em seu atual momento.
Amy está fora de ritmo – jamais em termos musicais, mas em relação a turnês e shows – e demonstra fragilidade. Aparenta não estar completamente à vontade no lugar em que sua música e seu talento a colocaram. Arrasadora em cada sílaba que canta, desorientada ao fim de cada canção, volta e meia precisa ler as letras em papéis impressos no chão. Ainda não dá conta de ser a diva cuja existência é denunciada por sua voz, um petardo.
Amy parece estar sob uma tensão constante que vem dela própria e de quem está a sua volta, seja público ou banda, quanto a cada passo seguinte. Ela está trançando as pernas, será que vai cair? Ela lembra qual é a próxima música? Ela sabe que essa é a deixa para começar a cantar? Ela chega a tempo ao microfone? Ela chega ao fim do show?
Sendo bem chato, dá pra dizer que ela não terminou o show, já que quem cantou a última música, “You’re Wondering Now”, foram seus vocalistas de apoio (aproveito aqui para dar minha contribuição ao pertinente clichê da comparação de Amy e sua banda com Tim Maia e sua Vitória Régia), mas não dá pra acusá-la de não ter dado conta do recado. Talvez não da forma esperada, mas deu, porque a voz está lá, deslumbrante. Apesar de tudo, uma voz só dela e utilizada de um jeito que só os grandes sabem fazer.
Janelle Monáe
Se eu não tivesse acompanhado apenas os 20 minutos finais do show de abertura de Janelle Monáe, eu poderia dizer um monte de coisa sobre ela. Se eu não tivesse entrado só no fim de “Mushrooms & Roses”, quando ela pintava um quadro no palco, eu diria que ela não precisava forçar essa barra para incrementar sua incrível performance. Se eu não tivesse só presenciado, em seguida, a porrada de “Cold War”, a deliciosa “Tightrope” e, no bis, a divertidíssima “Come Alive (War of the Roses)”, talvez seria possível dizer que Janelle não precisa tanto das referências pop e a filmes de ficção científica nos vídeos que acompanham seu show, assim como de alguns momentos mais teatrais. Entretanto, só com 20 minutos, não dá para contestar a presença de tudo isso.
Com 20 minutos, dá para garantir que Janelle, sozinha, é um show completo. Canta demais, dança muito. É diferente não só no penteado, na roupa. Comanda o espetáculo pra valer com as músicas que ela fez, com uma excelente banda que está às suas ordens, com um público cuja grande maioria não a conhecia e que foi conquistado ali na hora. Quem sabe se eu tivesse chegado mais cedo, poderia afirmar que Janelle Monáe está a caminho de ser uma estrela pop do porte de uma Beyoncé nessa segunda década do século XXI.
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