De todas as lições que Thiago Pethit deve ter aprendido durante a confecção do seu primeiro álbum, suspeito que a mais valiosa foi contenção. Havia sempre muito drama, muitas referências e muitas intenções na música de Thiago pré-“Berlim, Texas” e isso por muitas vezes tirava o brilho das canções. Você, claro, podia elogiar os arranjos, a voz e os vários estilos que Thiago interpretava, mas era sempre muito difícil achar um denominador comum, um personagem que ligasse toda aquela trama. Até “Mapa-Múndi”. Escolhida como primeiro single do álbum, a canção resume o exercício minimalista que é “Berlim, Texas”. Pela maior parte da valsinha, ouve-se apenas um piano e voz de Thiago, mais segura do que nunca, pedindo notícias de um amor distante. Thiago aparenta ter uma imensa bagagem que está ávido para explorar, mas em “Mapa-Múndi” ele se basta. E pela primeira, sabemos que ele está exatamente aonde queria. (Livio Vilela)
Há muitas Tulipas dentro de “Efêmera”: a espirituosa da faixa-título, a tímida de “Só Sei Dançar Com Você”, a autoconfiante, a romântica de “Do Amor”, a tresloucada de “Brocal Dourado” e várias outras que nós ainda nem sabemos. Mas em “Às Vezes” ouve-se cada uma delas. Numa composição tão dela que nem parece que foi escrita pelo seu pai, Tulipa muda de entonação e humor como quem avança para sílaba seguinte. Sem parada nem respiro, ela é nossa guia pelas calçadas da Augusta, pelo bares do centro de São Paulo e pelas mínimas coisas que fazem aquele amor ser tão importante para ela. Quando ela avista o horizonte no fim da viagem, você provavelmente vai estar exausto, mas não há como escapar: você vai querer ouvir tudo de novo. E de novo. E de novo. (Livio Vilela)
Tulipa Ruiz – Às Vezes (ao vivo)
“Em que sonho eu sonho meu sonho igual ao teu?”, indaga Alexandre Kumpinski sob uma camada de efeitos no refrão de “Nescafé”. É possivelmente a pergunta mais bonita que fizeram na música brasileira em muito tempo e demonstra que a Apanhador Só está a anos-luz de distância do resto na habilidade de colocar um bocado de sentimento honesto em 15 segundos de refrão. Sim, eles vão ser comparados exaustivamente aos Los Hermanos, porque essa é a última grande referência que o fã de rock brasileiro tem (mas isso está mudando, vale alertar). No entanto, vamos ser honestos aqui, quando foi a última vez que você ouviu os Los Hermanos fazerem uma canção tão emocionalmente direta quanto essa? (Livio Vilela)
“Não Fosse O Bom Humor”, acredito, não precisa de introdução. É a canção do Superguidis. Aquela que eles vão voltar a ouvir, velhinhos, e ainda sentirão orgulhosos. Mesmo mais de 3 anos depois de quando foi apresentada pela primeira vez, “Não Fosse” soa tão vital quanto, jogando luz sobre Andrio e Lucas, os dois trabalhares mais dedicados do indie rock brasileiro da última década. (Livio Vilela)
Superguidis – Não Fosse O Bom Humor
O Vinhal costuma dizer que a melhor definição do (novo) rock brasileiro é “solo de guitarra de bermuda”, num resumo da epifania que ele parece ter tido vendo o clipe de “Contando Estrelas” do Cidadão Instigado. Eu concordo, mas acrescentaria “Copo D’água” nessa definição. Por que haja coisa mais rock à brasileira do que Jeneci solando na safona e disputando atenção com o solo de guitarra de Scandurra em “Copo D’agua”, tudo isso acontecendo sobre a cama de Régis Damaesceno, Curumin e Gustavo Ruiz. (Livio Vilela)
Tem gente que pode reclamar que o som da Garotas Suecas não tenha nada de realmente novo, ficando preso nos anos 60 e 70, basicamente. Pode ser até uma crítica válida, mas a banda aborda suas influências com tanta habilidade e brilhantismo que é dificil não resistir a esse amálgama de funk sententista à la Sly Stone, samba rock e jovem guarda (Erasmo, principalmente). Além de composições em português, uma mais grudenta que a outra, a banda traz na percussão e nos metais a marca distintivamente brasileira, lição dos artistas antropofágicos nacionais de outras épocas que muitos parecem ter esquecido hoje em dia. Mas tudo Ben. (João Oliveira)
Ser uma banda foi uma das questões centrais de metade dos discos “de banda” brasileiros que importaram em 2010. No caso do Holger, o que gritava era a experiência de ser banda e como eles aparentemente gostam muito disso tudo. É até fácil de perceber se você já foi num show da banda, conversou mais de de 5 segundos com os 5 ou mesmo acompanha a banda no twitter/facebook. Eles provavelmente estão se fudendo muito como qualquer banda brasileira do porte deles, mas o que aparece aqui é quanta diversão eles parecem tirar disso tudo, e como eles conseguem, em “Let’em Shine Below”, levar o ouvinte junto. (Livio Vilela)
Tatá Aeroplano é um cara conhecido por ser uma das pessoas mais amigáveis da “cena”, mas é quando ele sucumbe a tristeza que saem suas melhores canções. Foi assim há 2 anos na quase-suicida “Sérgio Sampaio, Volta” (ainda imbatível) e é assim em “Cama”, a declaração de amor obsessivo que deu ao Cérebro (finalmente) seu primeiro grande hit. “Cama” ecoa o charme canastrão de Roberto e o gosto pelos extremos de Cazuza, mas o que fala mais alto é a capacidade de Tatá em transformar o Cérebro em algo massivo, sem perder fazer concessões áquilo que o fez chegar até aqui. (Livio Vilela)
“Efêmera” funcionou para 9 entre 10 pessoas nesse ano como o cartão de apresentação de Tulipa Ruiz. Não só porque é a música que abre o disco homônimo, mas também porque a maioria das pessoas que mostraram alguma música da cantora para um amigo muito provavelmente escolheu “Efêmera” para tocar primeiro. Não há muito segredo nisso, afinal Efêmera condensa todo o trabalho de Tulipa. Produção e arranjos cuidadosos, um timbre latino na percussão, a serenidade completamente confiante da sua voz e, pra finalizar, o toque especial de quando Tulipa canta com uma originalidade atordoante para as outras cantoras a palavra que dá nome a seu disco e a uma das melhores músicas do ano. (Matheus Vinhal)
Citamos de “Dança Bonito” pela primeira vez aqui no Bloody Pop há mais de um ano. 12 meses e alguns dias tão intensos que talvez basta dizer que naquela época a tag “marcelo-jeneci” só tinha duas postagens e – dá para acreditar – a tag “tulipa-ruiz” nem existia. Os discos da Nina e o disco do Do Amor ainda estavam 6 meses distantes do lançamento e o “Sunga” do Holger nem havia sido gravado. Voltamos a canção, agora com mais tempo, em março, uma semana antes do lançamento oficial do “RGB” do próprio Jr. Black e na véspera do vazamento de “Superguidis”. “Dança Bonito” era a melhor música brasileira daquele momento e possivelmente ainda é hoje, meses e discos depois.
“Dança Bonito” foi a vencedora improvável. Aquela música que todo mundo (todo mundo = staff do Bloody Pop) gostava de colocar ali entre as suas favoritas, mesmo que ela não fosse a favorita de ninguém. Como editor do Bloody Pop, o fato de “Dança Bonito” estar aqui diz muito sobre o 2010 desse site, da maneira como a gente tentou contar a história da música brasileira nesse ano a nossa maneira, mesmo com tantos solavancos e tropeços (não tá fácil para ninguém, você sabe). Por isso tudo, eu me sinto pessoalmente feliz com o fato de “Dança Bonito” terminar nesse lugar.
Para você leitor, talvez sem entender o último parágrafo e ainda encucado com a nossa escolha, eu só digo “deita ai e relaxa na viagem”, no groove da guitarra dos Mombojós Felipe e Marcelo, nas pirações da produção de outro Mombojó, o Chiquinho (e China) e no flow desleixadamente certeiro de Jr. Black (curiosidade: a “melhor música brasileira de 2009” também era vinha com a tag Hip Hop). É uma baita música, a maior mesmo depois de tudo aquilo que você ouviu nas 49 outras dessa lista. (Livio Vilela)
[audio: https://bloodypoparquivo.files.wordpress.com/2011/01/10_thiagopethit_mapamundi1.jpgaudio/jr-black–danca-bonito.mp3%5D
Não ter Tsunami do Violins sequer entre as 50 melhores é um pecado, isso pra não dizer um crime mesmo.
VIVA “DANÇA BONITO”!
essa música é sensacional mesmo, tá certíssimo esse primeiro lugar!
muito bom bicho, acho que essa foi a melhor lista que vi até agora!
valeu felipe!
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