Disco: "Wounded Rhymes", Lykke Li

Lykke Li é a moça de rosto exótico que ganhou muita gente com “I’m Good, I’m Gone” e “Little Bit”. Apresentada como uma espécie de pequeno frasco capaz de liberar as fragrâncias mais doces e cruéis do chamado “pop de grife”, a expectativa já era grande, quando “Youth Novels”, sua estréia “cheia”, chegou aos ouvidos de muitos. E se algumas faixas entregavam o que os dois primeiros singles prometiam, num misto de doçura arrulhada e desdém de menina-moça, o disco não era um sucesso total. Tinha seus momentos, mas acabava num limbo entre o marcante e o esquecível.

Com a antecipação de “Wounded Rhymes”, o segundo disco de denominação mais soturna da sueca, a impressão é que haveria uma mudança. O lado que se mostrava agressivo em “Youth Novels”, ao que parecia, tinha se expandido e ficado mais robusto, agregando um bocado de escuridão evanescente e produção mais assertiva, categórica. O que é evidente, até pelas entrevistas que a moça dá. Citando Jodorowsky e as gravações folclóricas de Alan Lomax, dá pra perceber que a onda, aqui, é bem mais pretensiosa do que antes. As coisas mudam um pouco quando alguém começa a se chamar de artista.

É com decepção, então, que se percebe que a grande ambição da cantora não é proporcional, em qualidade, ao que se ouve nas rimas feridas do disco. Sim, houve um afastamento de tudo que envolve as cores mais pop de “Youth Novels”, mas o disco permanece um produto desse tipo. É como se a moça acabasse ficando abaixo das expectativas que ela própria insere em seu trabalho. De modo que a maioria de “Wounded Rhymes”, que acaba entregando tanto canções mais cruas e nervosas quanto momentos mais tranquilos (e, infelizmente, não muito interessantes), não tenha tantos ganchos quanto gostaria.

Em vez de concentrar suas apostas na paleta sonora diversificada de sua estréia, as faixas mais marcantes do disco acabam mostrando uma atmosfera mais coesa, mais preocupada com produção e mais focada na construção de um universo menos plural, uma identidade mais estabelecida. Essa identidade tem muito da pretensão que a artista apresenta, na vida real, mas não é tão forçação de barra quanto sua postura midiática. O ramshackle blues de “Youth Knows No Pain” e a exuberância esvoaçante de “I Follow Rivers” são os dois lados de uma mesma moeda, distante e isolada no deserto que a cantora visitou, durante a gravação do disco, em Los Angeles. E ainda que, como proposta, faixas como essas apresentem força inegável, a verdade é que, na maioria das vezes, as melodias são menos bem trabalhadas que suas produções.

O que poderia ter sido um disco um pouco melhor, se fosse formado por essa vibe mais primitiva e misteriosa, acaba pecando por seus momentos mais lentos e menos inspirados. “Unrequited Love” se inspira em Elvis, mas tanto a melodia (um pouco errática) quanto a voz que a leva (um pouco inadequada) não apresentam a paixão embriagada que O Rei apresentou, em seus momentos mais doces. “Get Some”, segundo a cantora, não é sobre sexo (e sim poder), o que não a impede de vestir uma máscara sensual, em questão de som, e um vestido estranhamente convidativo, no clipe do single. “Silent My Song” (“I can’t tell if I am living or just holding on”), com clima de dança lenta de baile, cativa menos que a produção cinquentista e luxuosa que recebe.

O que sobra, então, são as duas primeiras faixas, a pureza sessentista (tum… tum, tum, pá) de “Sadness Is a Blessing” (“Tristeza é o meu namorado”) e “I Know Places”, o tipo de canção que só tem sucesso quando a honestidade é tanta quanto a da faixa, quieta e ferida pela batida lenta de um violão. No resto, se houve algum tipo de amadurecimento, ele é mais fechado que convidativo, mais amargo que doce.

[“Wounded Rhymes”, Lykke Li. 10 faixas produzidas por Björn Yttling. Lançado pela LL em Fevereiro de 2011]

[rating:3/5]

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