Tim Festival 2008: quase lá

Galera se jogando no Dan Deacon; melhor show do festival
Galera se jogando no Dan Deacon; melhor show do festival

Era quase certo que, independente do que acontecesse, o Tim Festival não seria o melhor evento de música de 2008. Em nenhuma outra edição do festival, havia tanta gente (me incluo nessa) com os dois pés atrás em relação ao evento. Ingressos caros, line up menos excitante (e com duas baixas de última hora) e o medo de cometerem os mesmos erros do passado faziam do Tim Festival 2008 uma das partes menos legais dentro de um calendário tumultuado, principalmente se comparado ao Planeta Terra.

Num misto de insanidade finaceira e responsabilidade editorial, o Bloody Pop conferiu o Timfa 2008 em São Paulo (Kanye, Neon Neon e Klaxons) e no Rio (The National, MGMT, Roberta Sá, Marcelo Camelo, Junior Boys e Dan Deacon).

A palavra-chave para entender o que foi (e também não foi) a edição 2008 do Tim é “quase”. Shows quase ótimos, organização quase desastrosa, envento quase cheio (ou quase vazio) e público quase satisfeito.

Entre os erros, é desrespeitoso que em 6 anos de existência o Tim não consiga cumprir os horários que divulga, nem oferecer um bom som nas suas apresentações. Se não bateu os ofensivos atrasos do ano passado, em 2008 ainda não houve artista não que começasse seu show meia-hora depois do combinado, sendo que o Kanye West só foi entrar no palco da Marina da Glória 1h10 depois do que estava escrito no ingresso, quando no outro palco os roadies já davam os últimos acertos nos instrumentos do The National.

Tanto em SP quanto no Rio, não houve som 100% – Kanye (SP) tocou baixo, National (RJ) e Klaxons (SP) com som um pouco embolado e o MGMT (RJ) com o grave estouradaço. A ceveja custava R$ 5, mesmo com um dos palcos sendo patrocinado por uma marca. A água valia R$ 4 dentro dos palcos, e R$ 1 a R$ 2 fora deles com qualquer vendedor ambulante.

Mesmo com duas baixas, a escalação acabou sendo o trunfo do festival. Sem um nome que atraísse hordas de fãs ao festival (como Strokes em 2005, Daft Punk em 2006 e Arctic Monkeys/Killers/Björk em 2007), o Tim fez apostas em nomes com apelo menor apelo (The National, Neon Neon, Junior Boys, Dan Deacon) e hypes passados (Klaxons, Camelo e Kanye), mas que, no fim das contas, se não valiam o preço do ingresso (entre R$ 140 e R$ 250), pelo menos garantiram ótimos shows.

Entre mortos e feridos, o Tim se salva com ressalvas: é hora de pensar num modelo de festival que permita ao público ver mais artistas por um preço menor (principalmente), como deixa de lição o Tim Festa, ponto alto do evento. Isso sem falar em tratar esse mesmo público (já nem tão fiel) com mais respeito: sem atrasos e oferecendo bons serviços. Aí sim voltamos a discutir qual é o melhor festival de música do Brasil.

Depois do pulo, as resenhas, fotos e um vídeozinho do Junior Boys tocando uma música nova que vai ser hit em 2009.

Kanye West: o ego e as luzes brilhantes

Já era esperado que o Kanye trouxesse suas luzes e seu ego para os shows no Brasil, mas ninguém imaginava que eles seriam tão grandes. O palco elevado simulando o relevo acidentado de um outro planeta, os dois telões ora como atmosfera, ora como painel da nave, bolas gigantes e toda a pirotecnica fizeram a apresentação de Kanye em SP uma espécie de Xou da Xuxa com direção de arte high-tech. E deu certo.

Musicalmente o show não vai além do Kanye de estúdio (é até um pouco pior), mas o visual é sim de cair o queixo. Sozinho no palco, Kanye maximiza seu ego, – “You are the biggest star in the unniverse”, fala uma voz pré-gravada – o que deixa uma hipótese para entedê-lo melhor. Diferente da maioria dos rappers, West se comporta mais como um artista do que um um entertainer ou trovador urbano. Ele acredita piamente na falácia de ser “o cara”, comum a quase todo rapper americano. É isso que faz Kanye seruma figura das mais interessantes do pop hoje, e que promete ficar ainda mais. Prestes a sofrer seu primeiro backlash com o “808 & Heartbreak” (“Love lockdown” ao vivo é o HORROR!), vai ser divertido ver “o cara” percebendo que não é “o cara”.

Klaxons e Neon Neon: no rave

Por mais que o termo New Rave soe hoje como um anacronismo do passado recente, em 2006 toda essa história parecia para lá de excitante. Vendido com a tagline “disco-punk psicodélico e progressivo echarcado de madchester, mas com a secura do indie rock” (minha definição), o movimento durou o tempo suficiente para ser descoberto que não havia movimento nenhum. Enquanto Klaxons e Late Of The Pier parecem ter ficado, aonde estão hoje Shitdisco, Hadouken, Kubichek!, etc?

Neon Neon abriu a noite com a Arena do Ibirapuera esvaziada (a New Rave não era grande em SP?) e fez um ótimo show para iniciados. Sem se importarem muito em conquistar as odiosas fanzetes do Klaxons, Gruff Rhys, Boom Bip e Cate Timothy executaram com perfeição as faixas do ótimo “Stainless Style”, álbum conceitual sobre a vida do construtor John Delorean, que transborda referências aos anos 80. A platéia só foi acordar mesmo com a entrada de Har Mar Superstar, o baixinho, gorducho e careca que acabou sendo a sensação do festival (ele participou do show do Klaxons, MGMT, Dan Deacon e ficou zanzando na Marina da Glória).

Os Klaxons entraram no palco atrasados pela chuva forte que entrava pelas frestas da cobertura da Arena, o que encurtou bastante o show. O set enxuto (nem 1 hora de show) mostrou que a New Rave mesmo morreu faz tempo ou nunca existiu, porque o que se viu ali é uma banda de indie rock com fartas doses de psicodelia (“Two recievers”, o melhor momento da apresentação, “Isle of her”, “It’s not over yet” como final caótico), alguns momentos mais eletrônicos (“Atlatis To Interzone”) e punks (“The bouncer”, que abriu o show).

Além das velhas conhecidas, eles apresentaram duas novas, “Moonhead” (pesada e rápida, lembrando o The Fall) e “Valley of the calm trees” (post-punk viajante, como um Echo & The Bunnymen menos sessentista), mostrando que o segundo disco deve definir a identidade da banda.

A paixão do National e o rock progressivo do MGMT

Banda mais esperada por mim de todo o festival, o The National fez um show a base de paixão, uma espécie de reprise do que o Wilco e o Arcade Fire tinha feito há três anos atrás (aka melhor noite da minha vida). É indescritível a sensação de ver uma banda que você adora fazendo um show com tanta entrega assim.

Metade Ian Curtis, metade Bruce Springsteen, Matt Beringer se joga na mesma intensidade que o seu público (pequeno, mas cantando todas as letras), enquanto o resto da banda (duas guitarras, baixo, bateria, teclado, violino e um naipe de metais) conseguem faz um som mais cheio e catártico do que nos discos.

O repertório foi todo dos dois últimos e melhores discos da banda, “Alligator” (2005) e “Boxer” (2007), com versões arasdoras para “Squalor Victoria” e “Abel”. A galera gritou o refrão de “Lit up”, mas a canção, infelizmente, não veio.

O show terminou com “Fake empire” e “Mr. November”, duas canções que lembram que rock politicamente responsável não é necessariamente bundão. Num momento em que a cidade vivia a expectativa para uma eleição decisiva, as duas serviram como metáfora. Pena que o domingo não elegeu o Mr. October carioca.

Já com a tenda lotada (indies, famosos, subs, os Klaxons e o Neon Neon), o MGMT fez o show com o pior som do festival, num nível bem desrespeitoso. Grave estourado, vocal abafado, guitarras emboladas – tudo, tudo errado. Mesmo assim, a banda provou que vai um pouco além do hype, mesmo que esse outro lado não seja exatamente legal.

Por mais que “Oracular Spectacular” tenha lá dois hits de pista e um hino (“Time to pretend”), a parada do MGMT é rock psicodélico setentista, com temerárias inflexões progressivas. Funciona quando embaixo dos solos de guitarras existem boas idéias como “Of moons, birds & monsters” e “The handshake”, mas flopa bonito quando a inspiração falta e baixa o Jethro Tull (“Metanoia”, dispersiva e sonolenta). Se a qualidade som não permitiu a banda deixar uma imprensão definitiva, é o caso de esperar atencioso o segundo disco. Se pá, pinta um novo Flaming Lips por aí.

Marcelo Camelo: vitória em casa

No suposto palco sem headliner (Paul Weller nem fez essa falta, vai), Roberta Sá fez um show bonitinho, mas bobinho, como ela. Menos sisuda que a Maria Rita e menos interessante que a Céu, Roberta parece uma Supreme do samba, – vozeirão, corpinho, vestidinho e sorrisinho – só que, infelizmente, ela não é nenhuma Diana Ross. Como um aperitivo do que viria, “Casa pré-fabricada” contou com o belo coro da platéia

E então, lá estava ele, sorriso aberto no meio da barba e guitarra em punho. Marcelo Camelo, depois de 1 ano e 3 meses sem se apresentar, voltava finalmente a sua casa. Agora acompanhado de outros irmãos, Camelo fez um show surpreendente para uma platéia que, pelas conversas de antes e depois, ainda guardava um muxoxo do seu primeiro (e bom, volto dizer) disco solo.

Na verdade, nem dá para dizer que “Sou” é um disco solo, principalmente ao vivo, quando o Hurtmold e o trompetista Rob Mazurek tem participação tão decisiva. São eles os responsáveis pelo excelência do show e desse novo caminho do Camelo, que parte de onde havia parado no “4”, misturando a MPB com o pós-rock de maneira bem mais interessante que o Caê e seu “Cê”. Ao vivo, faixas menores como “Téo e a gaivota” e “Saudade” crescem, enquanto os grande momentos do álbum ficam ainda maiores. “Mais tarde” é o Hurtmold chegando junto do pop, e “Janta”, com Marcelo e a platéia dividindo as vozes, é aquilo que eu já falei: a música brasileira do ano. Já mais perto do fim do show, ele senta no chão e começa dá início a uma longa jam instrumental, como se fosse só mais um ali. Foi o ponto alto da apresentação e, sem sombra de dúvidas, de todo o festival.

O trocadilho, por pior que seja, é incrivelmente válido: a solidão do Camelo, acredite, é doce. E bela.

Tim Festa: a elegância dos Junior Boys e a loucura do Dan Deacon

Como já era quase 1h da manhã quando Camelo terminou seu show com a marchinha “Copacabana”, decidi deixar o Arnaldo Antunes de lado para ir atrás dos shows do Tim Festa. Como a tenda que eu queria ir ainda estava fechada, decidi ver o Gogol Bordello no palco principal do festival.

Levou 5 minutos para comprovar o que eu já suspeitava: em qualquer nível de comparação (show, música, loucura), o Móveis faz melhor. Só que o Esdras e o André Gonzales não são amigos da Madonna.

Uma parada no bar depois, cheguei na pequena e esvaziada tenda em que o Junior Boys e o Dan Deacon tocariam.

Num set curto (8 músicas só), o Junior Boys deu um show de elegância com seu synth pop, além de apresentar duas novas músicas (“Hazel” e “Parallel lines”), que devem estar no terceiro disco da dupla canadense (no palco, trio), previsto para Junho do ano que vem.

Enquanto Ladyhawkes, Justices, Midnight Juggernauts apostam na farofa e no kitsch, os Junior Boys respondem com sensibilidade e bom gosto, numa espécie de mistura entre o Depeche Mode e Otis Redding via Timbaland. Coisa fina.

As duas faixas novas soam mais orientatas para pista de dança, principalmente “Hazel”, que você confere aí baixo, em vídeo exclusivo (e tosco) do Bloody Pop. Tem cara de hit.

Como fez o Girl Talk em 2007, o último show do Tim (pelo menos para mim) gardou as maiores surpresas. Por mais eu e as 100 e poucas pessoas que haviam ficado na tenda já tivessem lido sobre ou visto vídeos das apresentações do Dan Deacon, tudo foi muito mais maluco que os poucos (e bons: Gorky do Bonde, Kassin, Lúcio Ribeiro, Gruff Rhys, Har Mar Superstar, etc) imaginavam.

Comandando tudo de sua mesa lotada de pedais, cassiotones e um iPod rosinha, Dan faz uma espécie de “gincana do fim dos tempos” – é correria, trombada, gente dançando igual maluco, pulação total. Uma celebração do ato de celebrar em si. Felicidade e excitação em estado bruto.

É o mesmo sentimento de entrega, de paixão que eu falei sobre o National, só que sem as regras normais de um show de rock. Para lavar a alma e tudo mais.

************************************************

TOP 5 – Shows
1) The National/Dan Deacon (empate)
2) Marcelo Camelo
3) Junior Boys
3) Neon Neon
4) Klaxons

TOP 5 – o que deu certo
1) Tim Festa no Rio: a possibilidade de transitar livremente pelos palcos, deixa o Tim com mais cara de festival.
2) Har Mar Superstar
3) As surpresas: Dan Deacon, Junior Boys e o Neon Neon foram apostas da curadoria do Tim de que deram muito certo
4) Os artistas circulando outros pelos palcos: dava para ver os Klaxons, o Neon Neon e o HAR MAR SUPERSTAR passeando pela Marina da Glória, curtindo o festival tanto quanto o público.
5) O Ibirapuera: depois do fiasco do Tim 2007 em SP, a mudança para o Ibirapuera foi acertada

TOP 5 – o que NÃO deu certo
1) O preço abusivo dos ingressos
2) O formato do festival: até o MGMT reclamou (via URBe), não dá mais para o Tim fazer você comprar vários ingressos diferentes para ver a maioria da escalação. Se um dia funcionou dessa maneira, 2009 é hora de mudar.
3) O som: é desrespeitoso que um festival invista tanto em cenografia e divulgação não consiga fazer o básico e entregar um som bom (no volume certo, bem equalizado, dando para ouvir todos os instrumentos).
4) Os atrasos: melhorou, mas o Tim tem que cortar esse vício (do público também) de começar as apresentações sempre meia hora depois do previsto. Irrita e compromete a programação de que vai assistir shows em mais de um palco.
5) O preço dos comes e bebes: ninguém merece cerveja quente e ruim a R$ 5 e água a R$ 4. Sem falar nas comidas caríssimas nos barzinhos metidos.

************************************************

Mais fotos ruins no Flickr do Bloody Pop. Até o Planeta Terra!