Disco: "Rated R", Rihanna

rihanna-rated-r

Quem acompanha a carreira da cantora, mesmo que à distância (ou seja, quem ouviu os singles), sabe que Rihanna estava em curva ascendente até a fatídica noite no último Grammy. Recapitulemos: dois álbuns frouxos com dois primeiros singles sensacionais (“Pon The Replay” de 2005, seguido de “S.O.S.” de 2006 com Sample de Soft Cell), um álbum quase todo bom (“Good Girl Gone Bad”, que só perde para os álbuns nº 2 do Justin e da Beyoncé na mesma seara do pop mainstreamzão) com dois singles arrasa-quarteirão (a depechemodiana-forrozeira-hit-absoluto “Umbrella” e o elogio a Michael Jackson “Don’t Stop The Music”).

Daí que chegamos a “Rated R”, álbum vendido e executado como uma obra escura e pontiaguda sobre ódio a um antigo amor, que vocês sabem bem quem é. Se ela veste a camisa da decepção, não nos resta fazer nada além de coro ao sentimento. O que podia ter sido uma interessante viagem de ida e volta ao inferno, acaba soando como passeio lento, safo e quase sem adrenalina pelas mágoas de uma artista e uma história que prometia bem mais.

A benção e a maldição aqui são a mesma coisa. O que é louvável – uma palheta de sonoridades coesa através das 13 faixas, a gélida produção divida entre The-Dream, Tricky Stewart, Stargate e The Y’s e fato de ser o mais longe que uma popstar desse porte foi em se expor dessa maneira – também é o que deixa o álbum cansativo, sem punch e sem riscos. “Rated R” lembra em vários sentidos o interessante, mas mal executado “808s & Heartbreak” do seu amigo Kanye West, seja na sonoridade (ela não é tão minimalista quanto ele, mas joga sempre com poucas cores), seja na falta pegada para contar a história do popstar tinha tudo, mas que perdeu o que mais lhe importava.

O pop é cheio de grandes obras sobre indivíduos machucados e raivosos por outra pessoa – “Blood On The Tracks” do Dylan, “I Want You” do Marvin Gaye, “Back To Black” da Amy Winehouse – mas o que une todos esses álbuns num cantinho especial do panteão dos grandes não é exatamente aquilo que eles contam (nada mais clichê que o pé na bunda), mas a maneira como aquilo é contado. No caso de “Rated R”, Rihanna se mostra confusa em se aceitar como parte da culpa (há várias faixas, como o single “Roussian Roulette”, em que ela pisa em falso e quase banca a mulher de bandido) ou se revelar uma rainha fria, impenetrável e afiada como arame-farpado, da maneira que propõe a programação visual do álbum. É quando assume essa persona forte e impiedosa e deixa o resto a cargo de The-Dream e Tricky Stewart, a dupla de produtores por trás de “Umbrella”, é que ela rende mais, como em “Hard”, “Fire Bomb” e “Rockstar 101”, a última com solo de Slash.

De resto, sobram composições fracas de gente que não costuma errar – Justin em “Cold Case Love”, Ne-Yo em “Stupid In Love” e Will.i.am em “Photographs” – e canções que fogem do conceito do disco, como “Rude Boy”, “Te Amo” e “G4L”, completamente fora do tom.

Que ela supere rápido esse péssimo ano.

[“Rated R”, Rihanna. 13 faixas gravadas com vários produtores. Lançado em novembro de 2009 pela Universal/DefJam]

[rating: 2.5/5]